terça-feira, 17 de maio de 2011

em 9 de maio

(aos poucos vou postando aqui fragmentos dos e-mails que escrevi antes do nascimento deste blog)

me sinto cada vez menos estrangeira cá nesta terra dos meus antepassados. Por um lado, parece que estou bem adaptada e aqui já tem uma certa cara de "casa"; por outro, deixar de me surpreender com as coisas e ter uma rotina torna tudo menos interessante... Então, num esforço de recolher aquelas impressões ainda sob a ótica do estranhamento inicial, que é tão delicioso e impactante ao mesmo tempo, desta vez mando algumas anotações do meu diário de bordo:
- é admirável a autonomia dessa gente aqui, em todos os sentidos: desde os cuidados domésticos, em que eles fazem sem ajuda absolutamente tudo (o que não é só lavar, faxinar, cozinhar, mas também cuidar do lixo, do prédio, da calçada!), até o cuidado consigo (na academia, por exemplo, não tem um professor pra te passar a série de exercícios e te observar, é você quem sabe o que e como deve fazer. O mesmo vale pra máquina de bronzeamento artificial, proibida no Brasil e disponível aqui inclusive na academia: é só colocar uma moeda de 2 euros e usar, por sua conta e risco!), passando por todos os serviços (no comércio, em geral, é o cliente quem vai lá e procura a mercadoria, tem que levar sua sacola pra carregar as compras do mercado - e obviamente não existe entrega em casa! - no posto de gasolina é naturalmente o motorista quem abastece, na locadora de carros você recebe uma senha pra abrir um "cofre" no meio da rua e retirar a chave do seu carro, estacionado ali do lado, etc.) Aliás, os serviços são uma boa porcaria, mas não por isso. A coisa da autonomia eu até prezo, mas tem uma lógica do funcionário aqui se limitar, de forma objetivamente germânica, à sua função. Isso vale inclusive para a minha professora de alemão, que se recusa a dar qualquer vocabulário ou explicação que não faça parte daquela etapa do curso pela qual ela é responsável!
- ainda quanto à cultura da autonomia: velhinhos e crianças novinhas andam sozinhos, com uma independência impressionante! Inclusive de bicicleta, que aliás todo mundo usa aqui. As crianças fazem um treinamento específico e ganham até carteira a partir de uma determinada idade!! E não é raro encontrar ciclistas de cabeça branca, branca!
- As bicicletas (e também os cachorros!) são comuns inclusive no Strassenbahn (o transporte nosso de cada dia). Tem gente muito mal educada: acontece de idosos de idade bem avançada precisarem viajar em pé porque ninguém cede o lugar ou dá licença. É comum também as portas do bonde estarem abarrotadas, ter lugar à beça no meio e as pessoas não abrirem espaço para as outras passarem! Não muito diferente dos metrôs brasileiros...
- eles são MUITO porcos: papo de usar a mesma mão pra pegar o dinheiro e a casquinha do sorvete, ou fazer o sanduíche ou mesmo colocar no saquinho a castanha que você comprou; de virar a garrafa de cerveja dentro do copo, com a bebida encostando no corpo da garrafa até encher o copo; do Strassenbahn estar tão fedorento que você desce antes e vai a pé; de não se encontrar guardanapos e nem recebê-los quando se compra uma comida.

2 comentários:

  1. hahhaha Maria, dei risadas lendo o seu post... mt bom! isso da falta de higiene e da falta de educacao nao reparei ai na Alemanha nao, pelo contrario, achei eles muito preocupados com a limpeza e educados tambem, abrindo as portas, dando passagem para os outros passarem, abrindo as portas... talvez isso de pegar a casquinha do sorvete com a mesma mao que pega o dinheiro seja porque voces estao numa regiao pertinho da Franca... rs

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  2. hahaha...adorei esse post! Também fico impressionada com a independência das crianças.O bebê nem sabe andar direito e já está em alta velocidade no patinete nos parques....fico chocada com a habilidade!
    O conceito de higiene é outro mesmo. Vira e volta vejo alguém segurando o dinheiro com a boca. Percebo também um racionamento em relação ao papel, a água, etc... Fiquei pensando que poderia estar relacionado às muitas guerras que esse continente já experienciou. Eles aprenderam a racionar, a poupar, a ser prático...sei lá! E nós temos a herança indígena conosco, a gente adora se banhar...rs!

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