terça-feira, 24 de maio de 2011

aventuras de uma dona de casa

odisseia pra lavar roupa. Moramos na roça e não temos máquina de lavar aqui (ela está lá nos esperando no nosso super, lindo, maravilhoso futuro apartamento !) Acúmulo de roupa que não cabe no nosso carrinho de compras fofo (tipo aqueles carrinhos de compras, de lona, que as velhinhas usam - pelo menos aqui elas andam com eles pra cima e pra baixo. O nosso é preto de bolinha branca! O Marco acha meio esquisito, mas as outras opções eram rosa ou verde de bolinha!). Vou eu pro curso de alemão munida de carrinho, toda enrolada pra puxá-lo pra dentro e pra fora do Strassenbahn, escada acima e abaixo. O mais difícil foi explicar em alemão o que tinha ali dentro, justificando que, não, eu não estava de novo indo viajar. A lavanderia é um universo alienígena. Máquinas assustadoras e várias instruções incompreensíveis. Uma boa alma me ajuda, mas com a condição de que seja em alemão, afinal "se eu estou morando aqui, tenho que aprender". Tem toda a razão o senhor e até que meu alemão deu pra uma comunicação beeem precária, mas suficiente pra aprender que lã se lava a 40 graus e roupa de algodão branca a 60. Só que estava lá tudo misturado - jeans, tapete, lã, roupa íntima... Eu crente que os 60 ou 80 graus da máquina iriam neutralizar o absurdo de misturar roupa de cama, calcinha, pano de prato e o resto de chiclete que grudou na minha calça! Fiquei frustradíssima ao me dar conta que os 40 graus, praticamente nossa temperatura corporal, nunca dariam conta de me deixar com a sensação de que aquilo tudo estaria realmente limpo. Mas já tinha colocado os 7 euros na máquina e nunca que eu ia gastar mais (ainda tinha o preço da secagem!) Enfim, no final aprendi também que a mesma lã que atrapalhou tudo não podia ir na secadora e teve que adiantar minha volta pra casa, 2 horas depois, úmida e apertada num saco plástico! Resultado: não fiz compras e a dispensa está vazia. Sem comentários quanto às funções cozinhar, lavar louça, aspirar, passar pano, arrumar cama, organizar as coisas e fazer projeto de mestrado, pergunto: como as pessoas têm coragem de ter filhos?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

voltando às origens

Muito interessante isso dos caminhos que a vida vai desenhando. Cá estou eu, voltando às origens da minha família, totalmente imersa numa cultura que formou meu pai, meus tios, meus avós, sem jamais ter me identificado, desejado ou me interessado por resgatar essa história familiar. Pelo contrário, meu pai se naturalizou brasileiro (o que me impediu de solicitar cidadania) e, embora volta e meia concluíssem que, por conta dessa descendência tão próxima, eu falava alemão ou vinha pra cá com frequência, nunca houve proximidade com a cultura alemã e meu pai chegava a dizer que ele não era alemão coisa nenhuma, e sim brasileiro (o que é a mais pura verdade!). O desinteresse era tanto que quando Marco ganhou a bolsa pra vir fazer o mestrado aqui, eu logo saí com a solução: “ótimo, eu vou estudar na França e moramos lá, que é bem mais legal!”. Não sei bem de onde veio essa imagem de que a França é mais legal e que morar na Alemanha, que eu nem conhecia, seria desinteressante. Mas o engraçado é como a coisa mudou de figura sem que eu sequer me desse conta: não só eu estou super satisfeita de morar aqui, como estou estudando alemão intensivamente, tendo deixado o francês, teoricamente mais importante, em segundo plano. Estou tão “acomodada” aqui que a idéia de ter que viajar pra outro país (mesmo que a distância seja de 1h30!) pra ter uma vida profissional e acadêmica, me é desanimadora! Foi curiosíssimo ir pra França na última semana: rolou um novo choque cultural, achei tudo diferente e estranho. É como se agora eu pertencesse à Alemanha, onde sou menos estrangeira que na França! Dei-me conta, outro dia, de um bom indício da “redução do meu nível de estrangeiridade” : quando chegamos aqui tínhamos excelentes desculpas para não comprar o ticket do bonde (que se deve comprar e validar na máquina, mesmo sendo raríssimas as fiscalizações e não tão cara a multa caso não se tenha feito o procedimento – 40 euros): entendíamos que por sermos estrangeiros não tínhamos obrigação de saber como funcionava o negócio; depois acreditávamos que podíamos sempre andar com o bilhete mais barato e justificar que não sabíamos da diferença, depois fingíamos que já íamos saltar ou que estávamos comprando o tíquete durante toda a viagem! Hoje não tem questão: temos sempre a passagem regular, é como funciona, simples assim! E que esquisito olhar pra tão pouco atrás e me ver querendo dar um jeitinho brasileiro, achando correto e possível não me enquadrar no procedimento! E que aflição o “caos” da França, onde nem sempre se espera o sinal fechar para se atravessar, ou nem sempre a ciclovia é local só para bicicletas!!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

continuação

- o trânsito é muito louco: todas as ruas super estreitas e de mão dupla. De manhã cedo, na roça fofa que é aqui a nossa cidadezinha os ônibus disputam lugar com caminhões numa ruelinha que, não fosse pelo trânsito deste horário, pareceria parada no tempo! Acontece de um ou outro subirem violentamente nas calçadas para passar, essas às vezes com lindos jardins de tulipas! Já as bicicletas (e eventualmente as charretes que parecem só existir aqui na nossa bucólica vizinhança) têm prioridade absoluta, então ônibus ou caminhão nenhum as ultrapassam, ficando elas no MEIO da rua, sem nenhuma preocupação com sua velocidade ser infinitamente inferior a de um ônibus, ou de deslocar pra perto do meio fio pra dar passagem! Afinal, calçada é lugar de pedestre e não de bicicleta. A não ser quando é uma calçada compartilhada e aí, ai de você, pedestre, se não andar direitinho no seu canto de dentro! Corre o risco de ser atropelado pela bicicleta ou tomar um xingamento em alemão! Aliás, ô povo brabo! Levo um susto toda vez que falam comigo! Parece que eles estão brigando mesmo quando só estão te avisando que você é bem-vindo e pode entrar!
-ainda sobre o alemão no volante: os carros são estacionados tão bizarramente que é comum vê-los completamente atravessados nas calçadas (perpendiculares em vez de paralelos ao espaço do pedestre!), ou tão tortos que a bunda fica ocupando um pedaço da rua, ou mesmo fora de vaga, no meio da rua, aquela que tem espaço pra apenas um veículo e é mão dupla, com caminhões e ônibus! E, apesar disso, é um povo super civilizado!
- duas coisas que fazem MUITA falta aqui e que não consigo entender porque eles não usam: máquinas ou capacidade para usar cartões de crédito ou mesmo de débito, e tanque! Não sei como esse povo que faz faxina e lava roupa não sente falta de tanque! Ah, sim, também não existe ralo no banheiro. Bom, se o apartamento vier com uma cozinha montada, já se pode sentir no lucro (isso foi determinante na escolha do nosso futuro lar!)  A maioria dos apartamentos pra alugar aqui não tem nem a bancada da pia! Isso também faz parte da incrível cultura da autonomia: compra-se, carrega-se e monta-se seus próprios móveis, inclusive sua cozinha!Você vai na loja e olha praquele monte de pedaço de compensado e vai consultando o manual que você baixou da internet pra pegar as peças, os parafusos e roscas do tamanho certo, além dos eletrodomésticos, e depois carregar pra casa o peso todo, subir os até 6 lances de escada que um prédio, invariavelmente sem elevador, costuma ter, e passar horas com as instruções na mão montando a sua própria Kuche). E assim a pessoa aqui passa a dar o devido valor a uma cadeira!!
  

terça-feira, 17 de maio de 2011

em 9 de maio

(aos poucos vou postando aqui fragmentos dos e-mails que escrevi antes do nascimento deste blog)

me sinto cada vez menos estrangeira cá nesta terra dos meus antepassados. Por um lado, parece que estou bem adaptada e aqui já tem uma certa cara de "casa"; por outro, deixar de me surpreender com as coisas e ter uma rotina torna tudo menos interessante... Então, num esforço de recolher aquelas impressões ainda sob a ótica do estranhamento inicial, que é tão delicioso e impactante ao mesmo tempo, desta vez mando algumas anotações do meu diário de bordo:
- é admirável a autonomia dessa gente aqui, em todos os sentidos: desde os cuidados domésticos, em que eles fazem sem ajuda absolutamente tudo (o que não é só lavar, faxinar, cozinhar, mas também cuidar do lixo, do prédio, da calçada!), até o cuidado consigo (na academia, por exemplo, não tem um professor pra te passar a série de exercícios e te observar, é você quem sabe o que e como deve fazer. O mesmo vale pra máquina de bronzeamento artificial, proibida no Brasil e disponível aqui inclusive na academia: é só colocar uma moeda de 2 euros e usar, por sua conta e risco!), passando por todos os serviços (no comércio, em geral, é o cliente quem vai lá e procura a mercadoria, tem que levar sua sacola pra carregar as compras do mercado - e obviamente não existe entrega em casa! - no posto de gasolina é naturalmente o motorista quem abastece, na locadora de carros você recebe uma senha pra abrir um "cofre" no meio da rua e retirar a chave do seu carro, estacionado ali do lado, etc.) Aliás, os serviços são uma boa porcaria, mas não por isso. A coisa da autonomia eu até prezo, mas tem uma lógica do funcionário aqui se limitar, de forma objetivamente germânica, à sua função. Isso vale inclusive para a minha professora de alemão, que se recusa a dar qualquer vocabulário ou explicação que não faça parte daquela etapa do curso pela qual ela é responsável!
- ainda quanto à cultura da autonomia: velhinhos e crianças novinhas andam sozinhos, com uma independência impressionante! Inclusive de bicicleta, que aliás todo mundo usa aqui. As crianças fazem um treinamento específico e ganham até carteira a partir de uma determinada idade!! E não é raro encontrar ciclistas de cabeça branca, branca!
- As bicicletas (e também os cachorros!) são comuns inclusive no Strassenbahn (o transporte nosso de cada dia). Tem gente muito mal educada: acontece de idosos de idade bem avançada precisarem viajar em pé porque ninguém cede o lugar ou dá licença. É comum também as portas do bonde estarem abarrotadas, ter lugar à beça no meio e as pessoas não abrirem espaço para as outras passarem! Não muito diferente dos metrôs brasileiros...
- eles são MUITO porcos: papo de usar a mesma mão pra pegar o dinheiro e a casquinha do sorvete, ou fazer o sanduíche ou mesmo colocar no saquinho a castanha que você comprou; de virar a garrafa de cerveja dentro do copo, com a bebida encostando no corpo da garrafa até encher o copo; do Strassenbahn estar tão fedorento que você desce antes e vai a pé; de não se encontrar guardanapos e nem recebê-los quando se compra uma comida.

domingo, 15 de maio de 2011

voltando pra "casa"

Ela: é estranho não sentir nossa casa como casa mesmo, ter como referência de casa uma tão distante. Nossa, fico angustiada de pensar nessas coisas, me sinto desamparada, meio sem contorno, sem referências...
Ele: ih, nem pediram nosso ticket no trem!


ô bicho dessubjetivado esse tal de homem!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

sexta feira treze

Esta é de hoje mesmo (a postagem anterior foi escrita ontem, mas eu apanhei um bocado até achar este tal blogspot aqui, finalmente facinho de usar):


resolvi dar sentido à dor de cabeça monstra que grudou em mim desde ontem (coisa rara!), junto com um mal-humor insuportável, quando descobri que hoje é sexta-feira 13. Só mais tarde fui me dar conta de que hoje fazemos 6 meses de casados! 6 meses de papel passado, mas exatos 1 mês e meio de vida de casal mesmo. E que descoberta difícil e deliciosa ao mesmo tempo essa de dividir a vida! Vamos comemorar agora com um vinho e um filme. E uma viagem pra Freiburg amanhã, que eu digo que foi planejada justamente pra celebrar os 6 meses de casório e os 4 anos de namoro, depois quase passados batidos, mas que na verdade é porque o meu marido (já estou quase me acostumando com essa palavra linda!) foi chamado pra tocar lá,chiquérrimo!. Bom, que nosso casamento seja um eterno namoro! (Isso foi piegas, mas não poderia ser mais verdadeiro!).


















OBS: o mal-humor literalmente me pegou - em meio à confusão dos meus pobres neurônios com tantas línguas, fiquei sem saber se estou de MAU-HUMOR ou de MAL-HUMOR. Logo saquei que obviamente tratava-se de MAU-humor, pois era o contrário do BOM-humor e não do BEM-humor. Aí o que me parou foi o hifen - depois da reforma ortográfica eu nunca sei se as palavras, antes tão familiares, têm hífen! Fui eu lá, mais uma vez, consultar o Flip, o corretor ortográfico de língua portuguesa e, segundo ele, não só o raio do humor tem hífen mas é com L mesmo. Eu hein!!

uma tentativa de começo

-Como que se começa um blog?

Bom, já que o caminho se faz ao caminhar, lá vai uma tentativa, meio constrangida com esse negócio de exposição:

Parece que a calorosa despedida do Brasil, ao mesmo tempo tão recente e já tão distante, somada à idéia e incentivo de amigos e às boas respostas aos meus e-mails (estou começando a acreditar que eles são interessantes mesmo!) massagearam meu ego e eu resolvi fazer algo que nunca imaginei: criar um blog! Sou tão ignorante no assunto, que não sei nem qual é o verbo pra isso: começar, criar, abrir, fazer?! Sei que a ideia de publicizar minhas observações, anotações e tantas coisitas pessoais é muito estranha, mas é também uma forma de me manter conectada (literalmente!) com o mundo, de me sentir ainda muito próxima das pessoas queridas, destinatárias do meu diário de bordo, e de dar contorno a essa experiência louca, intensa e fantástica de começar a olhar o mundo com outros olhos. E, preciso confessar, escrevê-lo tem sido surpreendentemente prazeiroso. Sem dúvida, trata-se de um sintoma, pois eu devia era estar escrevendo meu projeto de mestrado! Como posso ter tanta falta de talento pra uma escrita e tanta ideia pra outra?

Hoje comecei o curso de francês, na tentativa de me sentir menos insegura pras entrevistas que tenho em Strasbourg na semana que vem e na próxima. E aconteceu o contrário: fiquei desesperada ao perceber que a coisa é mais grave do que eu imaginava: perdi muito do pouco francês que eu tinha!! O vocabulário me ocorre em inglês, em alemão e nada do raio do francês vir! Também, absolutamente imersa no alemão, esta língua “sutil” que gruda na cabeça, fazendo 4 horas diárias de aula, me comunicando em inglês na rua e em português em casa fica difícil ter cabeça pra alguma outra língua. Estou pirando, tem momentos em que não sei falar nenhuma delas! Mas olha que lindo: se tudo der certo e meus neurônios, já normalmente tão confusos, não estourarem, vou sair daqui poliglota!! Genteee, até a palavra é chique!
Bom, mas se o francês, tadinho, tá semi-morto, hoje fiquei orgulhosa dos meus incríveis avanços: consegui usar meu escasso alemão pra comprar um livro e pra me fazer entender pela atendente do curso!

E eu que sou meio cética com essas coisas, ri ao ler meu horóscopo de hoje:
SOL NA CASA 9, LUA NA CASA 1
DE: 12/05 (Hoje) , 11h33
ATÉ: 15/05 , 0h09 
Sol e Lua nas casas 9 e 1 estão em harmonia, nesta próxima fase que vai de 12/05 (Hoje) a 15/05. Você estará vivendo um momento excepcionalmente favorável para fazer contato com pessoas que estão distantes, ou mesmo viajar.
Esta é também uma fase favorável para a expansão de seus próprios quereres e idéias (...) falando sobre suas experiências. Você, de repente, descobre que as coisas que havia imaginado podem ser muito mais amplas! (...)
 Reflexão para o período:o que há de novo para descobrir?