terça-feira, 4 de dezembro de 2012

rabugenta


A Alemanha é admirada pela sua organização, na qual tudo funciona bem. Trata-se de um desses estereótipos que tem lá sua verdade mas que volta e meia nos frustram. Fiquei até envergonhada com a quebra do ideal quando as últimas visitas estiveram aqui: tinha bonde atrasando, mendigo pedindo dinheiro, homem dando cantada, e até trem quebrando!! Nesse momento, estou é achando a Alemanha um grande exemplo de caos e burocracia kafkaniana. A última foi a saga do correio: depois da maratona pra finalmente receber, desvendar e conseguir preencher um documento pro estágio, desejado desde antes de eu vir pra Europa, fui às pressas ao correio, numa caminhada de 15 minutos na agradável temperatura de 3 graus, pra mandar o raio do papel. Perguntei se havia alguma modalidade de envio mais rápida para a França, mas a alemã, como sempre muito econômica, disse que era muito caro. Ela falou que o prazo era de 5 dias, e, fiz as contas, daria tudo certo pra próxima etapa da maratona (receber documento assinado pela clínica, encaminhar pra professora, pra responsável pelos estágios, pra secretária do doutorado, pro reitor e pra Deus), fase que tem que terminar entre natal e ano novo, um período óoootimo para a burocracia andar. Enfim, primeira missão cumprida, não é que o documento voltou pra minha casa no sábado, com um aviso do correio de que havia selos insuficientes?!  Oras, eu tinha postado o raio do envelope através no próprio correio, depois de encarar fila e esperar a retardada da funcionária esclarecer com a colega todas as suas mil dúvidas sobre como mandar uma carta pra França! O pior é que eu tinha pagado o valor do envio internacional, a anta é que não colocou um selo. Me corroí de raiva ao perceber que não chegaria em tempo se eu postasse de novo na segunda e ao descobrir que o único correio aberto no sábado à tarde era o de um shopping em Karlsruhe, me obrigando a encarar 40 minutos de viagem até lá; dessa vez pelo menos num friozinho de 4 graus. Pois chego eu no endereço indicado na página do correio na internet e se trata de um balcão de assinatura de tv a cabo! Ok, eles também despachavam envelopes: cobravam a remessa lá e esperavam o correio vir buscar... na SEGUNDA-FEIRA! Genial, pedi pra postar com urgência, dane-se o preço. Mas esta modalidade ele só tinha para pacote, não pra envelope. Então o funcionário, super gentil, embrulhou meu envelope inteiro com uma fita de pacote e, apesar de ultra tosco e dele não saber se devia me cobrar o valor integral ou subtrair o valor do selo que já estava no envelope, disse que “com ele não tinha erro”. Tive vontade de ir lá rogar uma praga de azar sexual eterno quando o maldito envelope me aparecer de volta em casa na quarta à noite!! Fiquei louca! Carreguei o Marco pra ir comigo na central dos correios reclamar, pois minha experiência de tentativa de queixa no correio aqui da roça tinha sido traumática (depois de passar vergonha ao ter dificuldade de explicar no meu alemão sofrido, diante da fila-público, que o-envelope-que-ela-tinha-mandado-voltou-com-a-informação-de-que-não-havia-selos-suficientes-mas-que-eu-tinha-pagado-o valor-certo-e que- eu-perdi-o-meu-sábado-no-frio -por-causa-disso, ela cagou baldes, me olhando com cara de “não estou entendendo”.) Bom, após uma fila monstra no correio central e a explicação do absurdo para a funcionária, a imbecil diz que não podia fazer nada pois "não tinha sido erro dela"! E depois de muitos argumentos ignorados, terminamos dizendo que ela, como funcionária, representava o correio, ao que ela respondeu, no radicalismo da lógica alemã de "cada um por si",  que, não, de forma alguma! E pra piorar, não quis mandar meu envelope nem eu pagando de novo, pois "estava muito velho"! 
Hoje liguei pela 17ª vez pro curso de alemão que quero fazer e, finalmente atendida, soube que sou obrigada a fazer uma prova de nivelamento pra definir em que curso devo me matricular e que, não, não posso simplesmente experimentar uma aula, mesmo sabendo muito bem em qual nível parei de estudar. Tive que ligar mais várias vezes pra confirmar que o teste não era pago. Cumpri o script e fui lá fazer a prova em vez de começar logo o curso, e ganhei de presente 7 graus, bem melhor! Chegando lá tinha que esperar atendimento, no qual se preenchia uma ficha para ficar na fila para fazer a prova. Prova feita, devia-se esperar a correção para conversar com um professor pra ele te perguntar em que nível você quer ficar!! E tinha que pagar o raio da prova sim, inacreditável. E não adianta nada dizer que ligou de manhã e falou com a atendente que disse que não tinha que pagar.
Tem também a novela dos contratos, nos quais não é preciso assinar nada para se prender a um serviço em que se é obrigado a pagar por 2 anos, sem possibilidade de cancelamento, mesmo quando as condições apresentadas por um vendedor não condizem com o serviço prestado e os atendentes de um número para o qual a ligação custa 1 euro por minuto dizem cada hora uma coisa. Papo de você ter um plano de internet que custa 20 euros por mês e ser cobrado em 25 euros cada mês. Aí você liga e gasta 4 euros pra ser atendido e a pessoa informa que os 5 euros a mais é porque você tem direito a telefone fixo também (só nos faltava o aparelho!) Comprado o aparelho, descobre-se que não se sabe como fazer funcionar o telefone e paga-se de novo uma longa ligação pra ouvir do atendente que não, não há telefone fixo no nosso contrato! E depois de dezenas de outras chateações com a internet, a gota d´água foi a cobrança de um modem que não sabíamos ter que pagar. Tentar cancelar é roubada, eles te processam por interromper o contrato antes da hora.
E só para completar o meu desfile de chatices nesse post tão ruim que ninguém vai ler, mas que tem a função de botar pra fora minha frustração com a tal organização alemã: mesmo aqui na roça, mesmo sendo um prediozinho de 3 andares, o governo subsidia reforma para acesso a cadeirante e para uso de energia solar. Bacana pra caramba, ainda mais quando vemos aqueles prédios sendo construídos, guindastes até pra botar uma janela numa casa de apenas um andar, tecnologia altamente avançada, tijolos enormes que isolam o frio e fazem circular o ar no calor, pouquíssimos funcionários e uma casa que brota em 2 meses, tudo lindo! Apesar da chatíssima reunião de “condomínio” (são 3 apartamentos) pra decidir se queríamos venezianas que abrem e fecham girando a manivela ou puxando a corda pra cima ou pra baixo, me senti super respeitada com a democracia da decisão (poxa, a gente vai ficar tão pouco aqui e nossas preferências estão sendo ouvidas e acolhidas!) e com a loooonga explicação sobre cronograma e como tudo ia funcionar. Bom, não cabe enumerar a sucessão de absurdos que tem sido essa obra, que cimenta o vidro lindo que iluminava o interior do prédio e troca portas de madeira por portas de metal cinza que mais parecem naves especiais (contextualiza que estamos numa ruazinha, no meio do nada, chamada “Floresta Negra”!), além de deixar há 6 meses uma sujeira permanente, isso sem mencionar o barulho. Mas só pra terminar o desabafo: a primeira surpresinha foi quando voltamos de viagem, isso em agosto, com os sogros, que iam finalmente conhecer nossa casita linda, e havia um caos instalado! Os operários pegaram a chave com a vizinha e, durante nossa ausência, remontaram as janelas, que, além de ficarem horríveis, deixaram um lastro de poeira na casa toda.  Quatro meses sem esquadrias nas janelas (horrível) se passaram e hoje voltaram a colocá-las, depois de 25 agendamentos, esperas e estadas em casa pra receber pedreiros que não vinham. Foi assim: hoje, sem que se esperasse, vieram logo dois caras. Marco foi abrir a porta, às 8h da manhã, como de costume. E estou eu ainda transitando do mundo onírico pro mundo dos acordados, quando entra um homem no quarto, cuja porta estava fechada, sem nem bater! Sim, bom dia!
Ah, exemplo mesmo da organização alemã é a caixa do supermercado. Não importa qual mercado e em que lugar da Alemanha, elas são incríveis! Você colocou seus produtos na esteira e, ainda não conseguiu abrir a bolsa pra tirar a carteira e ela já passou tudo (pode ser grandes compras do mês!) e já está te olhando repreendedora porque você ainda não guardou tudo nas suas sacolas de compras que você levou de casa (você não conseguiu nem começar a guardar e ela já começa a passar as compras do outro, que rapidamente se misturam com as suas). Uma loucura! Morro de medo de ir ao mercado. Fico tão nervosa de lerdar, que nunca achava a carteira em tempo! Agora já estou esperta: vou pra fila com a carteira na mão e as sacolas a postos, pra correr pra ponta do caixa e tentar botar tudo dentro o quanto antes, isso tudo tremendo! Bem que essas caixas podiam trabalhar no correio ou na obra aqui de casa...