sábado, 25 de junho de 2011

começando bem o dia!

Depois de uma farra ontem, coisa rara na nossa vidinha atual, em que bebemos todas e chegamos de manhã em casa, fomos acordados com interfone e campanhia tocando, pelo simpático proprietário do nosso apartamento. Sem nenhum pedido de desculpas pelo inconveniente de nos acordar em pleno sábado de manhã e invadir “nossa” casa (dele, mas estamos pagando caríssimo por ela!), ele começa a reclamar que está tudo bagunçado, que nunca viu o apartamento tão mal cuidado!!! Como assim?! Ainda veio afirmar que o mofo, que se espalha por todos os lugares, é culpa do nosso descuido!! Quer dizer que o fato disso aqui ser subsolo, sem iluminação, sem ventilação e de estar um frio do caramba, com o aquecimento desligado, não tem nada a ver com a umidade e a culpa é da minha faxina semanal, que minha coluna tanto odeia! Caraca, que raiva! O pior foi morrer de medo dele resolver embolsar nossos 540 euros  de caução na hora de finalizar o contrato de aluguel e ter que arrumar a casa toda às pressas e simpaticamente chamar ele pra conversar. É muito louco isso: pagamos essa grana do caução adiantada e estamos totalmente submetidos à avaliação dele, que decide devolver ou não o dinheiro!  Estou me sentindo em pleno regime nazista!
Ainda bem que semana que vem mudamos pra nossa linda mansão. Não vejo a hora!!

OBS: Sem comentários quanto ao meu incômodo com a bagunça do Marco, que, a despeito da minha eterna tentativa de manter as coisas em ordem,  parece o Taz, aquele bicho que passa feito um furacão! 

E já que o assunto do post novo é apartamento, copio um dos primeiros e-mails, de março, sobre a loucura que é o mercado imobiliário aqui

Caríssimos do meu coração
as notícias aqui não são muito animadoras. Está dificílimo encontrar apartamento. A maioria das imobiliárias ou proprietários nem dá ideia pra gente por sermos estrangeiros, estudantes e de baixa renda! É uma loucura isso aqui: a taxa que o locatório tem que pagar pro corretor corresponde em geral a dois meses e meio de aluguel, o que pode chegar a 1800 euros e eles não fazem absolutamente nada! Aliás, os serviços aqui são péssimos. Outro dia, rodando desesperados por Karlsruhe, cidade onde vamos morar, vimos um anúncio de ótimas ofertas de apartamento na vitrine de uma imobiliária. Tentamos entrar e não era lá, mas no quarteirão seguinte. Chegamos e paramos na porta, sendo vistos por uma funcionária que estava lá dentro e nem se mexeu. Tivemos que bater na porta algumas vezes até ela fazer um gesto, super de má vontade, de que a entrada era do outro lado. Demos a volta e interfonamos para ouvir do grosso que finalmente atendeu que não havia ninguém disponível!! Outra imobiliária para a qual telefonamos não sabia informar qual era a data da visita ao apartamento que queríamos, mandando o Marco ligar novamente 4 vezes até, dois dias depois, finalmente saber dar alguma informação: que o imóvel não estava mais disponível! Enfim, o único apartamento que encontramos e que tivemos o aval do proprietário pra assinar contrato era um sótão que tinha um teto tão baixo que precisaríamos lavar louça e tomar banho sentados! Os outros ou não alugam para pessoas com menos de 40 anos, ou são para apenas uma pessoa, ou não têm janelas, ou só vagam em julho, ou pedem um contrato de 7 anos! E mesmo assim a concorrência é grande e a chance de rodarmos é enorme. Tem até golpe: outro dia recebemos um e-mail com fotos de um lugar incrível. Lindo, bem localizado, todo mobiliado e menos de metade do preço dos lugares horríveis que temos visto. É claro que respondemos na hora falando do nosso interesse e a mulher mandou um papo de que mora em Londres e não teria como mostrar o apartamento mas que podíamos fechar e até ficar com os móveis e eletrodomésticos, bastando para isso depositar o equivalente a alguns meses de aluguel!  Por enquanto estamos em Freiburg no alojamento de estudantes do curso de alemão do Marco, que já acabou. Além de estarmos acampados, com 6 malas espremidas num quarto que seria só pra um, temos que sair no dia 1 de abril e não é mentira. Isso aqui é uma experiência antropológica: tem os árabes vestidos com camisolas, os orientais que falam cantando e só estudam, o pessoal da Tanzãnia que é super gente boa, os franceses super metidos, os espanhóis que ficam tentando socializar em portunhol com os brasileiros, que são quase maioria e fazem a maior festa no refeitório. Aliás, dividir a cozinha com essa gente toda é uma experiência à parte. O cheiro é tão forte que depois de cozinhar nossas roupas ficam impregnadas por dias. E os árabes, que não comem porco, ficam desesperados com a fumaça do porco feito pelos orientais.  Bom, pelo menos é divertido. E os dias têm estado lindos, com sol e não muito frio. Pena que não estamos ainda conseguindo curtir a cidade, que é maravilhosa, nesses nossos últimos dias aqui, pois temos ido quase que diariamente a Karlsruhe para ver apartamento. Quando não, ficamos trancados no quarto, pesquisando sites de imobiliárias e telefonando. Enfim, enquanto é tudo novidade está bom. Tomara que em breve, quando deixar de ser novidade, tenhamos nosso cantinho bonitinho pra receber vocês num imóvel “com condições adequadas de higiene, ventilação e iluminação, além de rede hidráulica e elétrica”, conforme os sumários do MOTE que também têm sido parte do meu castigo nesse início aqui. Vale incluir que é importante também um sistema de calefação eficaz, embora agora a tendência seja só esquentar e parece que o verão aqui é brabo, sendo ventilador artigo de luxo. Por hora, não estamos fazendo nenhuma dessas exigências!
Beijo enorme
Frau Lima
(sim, esta sou eu aqui! Aliás vou começar a procurar correndo um curso de alemão pra não precisar mais ficar fazendo cara de paisagem quando o Herr Lima está mandando ver no alemão e o interlocutor responde olhando pra mim!)

Em tempo: escrevi este e-mail de manhã e não foi enviado porque estava sem conexão. Preciso fazer esse adendo pra dar boas noticias, depois de um dia exaustivo em Karlsruhe: achamos um apartamento lindo, baratíssimo e mobiliado! É super longe, quase na roça, mas num lugar charmoso. Só que só podemos entrar em julho. Agora a busca vai ser por um albergue ou algo do gênero onde possamos ficar acampados por 3 meses. E pra quem acha que tudo funciona bem por aqui: o trem de volta foi cancelado e tivemos que pegar o seguinte, duas horas depois, chegando só agora, uma da manhã, com os supermercados já todos fechados e sem nada pra fazer um jantarzinho...  Mas amanhã devemos tomar café com uma brasileira, psicanalista e cantora, que vai ensinar uma parte do caminho das pedras. Boa noite, pessoal!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

E uma história do início de abril, pra quem não recebeu por e-mail...

Coisas muito curiosas acontecem por estas bandas de cá:
Há pouco tomávamos café da manhã no palácio da Aninha e do Rafa, onde estamos muito bem hospedados esses dias, quando ouvimos uma música bonita. Olhamos pela janela e vinham uma moça no acordeão e um senhor no violão, no meio da rua. Fomos pra varanda e ficamos apreciando, sem saber qual era a intenção da dupla, que não parecia tão somente querer alegrar a manhã de sexta de pobres mortais como nós. Entendemos que, pelas caras, eles queriam dinheiro e ficamos imaginando que absurdo seria jogar dinheiro e eles terem que interromper a música pra ir catar moedas no chão. Descer também não era o caso. Como funcionava isso, então? Logo veio uma mulher, do prédio da frente, gritar naquele alemão simpático que era pra eles pararem pois aquilo dava dor de cabeça!! E o casal, então, apontou pra gente, justificando porque estavam tocando! Sentimo-nos os próprios homenageados da serenata matinal, ainda sem saber o que fazer, mas conscientes de que deveríamos evitar a todo custo qualquer mal estar com a nossa cara vizinha. Aprendemos com a Aninha que política da boa vizinhança é algo fundamental aqui! Então fomos entrando, como quem não quer nada, agradecendo aos músicos, que nos olharam furiosos!

E agora, José?

Projeto de mestrado finalizado e a alegria da missão cumprida imediatamente substituiu uma vazio enorme: e agora? Se tudo der certo, as atividades começam em final de setembro. Estou eu aqui no coração do mundo, do ladinho de um monte de destinos sensacionais, mas não é hora de viajar (marido está ocupado com mestrado, cunhada chega mês que vem, quando devemos rodar por aí, o dinheiro já está curtíssimo...). É engraçado como o sempre almejado tempo livre me desorganiza! E aqui tem o agravante de não poder aproveitá-lo tomando cerveja com os amigos (embora tenha a melhor cerveja do mundo!) Queria eu ter a sabedoria de aproveitar dias de folga para fazer aquelas coisas que a gente sempre tem vontade de fazer quando não tem tempo, mas que perde a vontade quando tem!
Bom, o jeito vai ser voltar à rotina escolar do curso de alemão intensivo... Em vez de sair de bicicleta por aí, amanhã estarei eu dizendo “Guten Tag” pra Frau Brauer!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

fragmentos do último e-mail (se você recebeu, não se dê o trabalho de ler!)

Lindos do meu coração, 

agora sou novamente uma pessoa ocupada, compenetradissima com o desafio de parir um projeto de mestrado (diga-se de passagem, com um tema completamente diferente do planejado), além do intensivo de alemão e das aulas de conversação em francês. Por isso ando sumida, mas confesso que esse negócio de escrever é o maior vício, então vamos a mais relatos banais sobre essas últimas semanas:


-fizemos duas viagens curtas (pra Freiburg, onde Marco foi tocar e rever amigos do curso de alemão) e pra Bonn (que é muito bom! Mas bom mesmo é Colônia, que é do lado e é encantadora. Me senti no carnaval do Rio: pessoas fantasiadas nas ruas, tudo alegre, colorido e cheio de música. Fiquei fascinada com uma bicicleta coletiva, onde umas 20 pessoas bebem de canudinho um barril enorme de chopp enquanto pedalam!)

-estive na França para as entrevistas e finalmente defini meu mestrado e confirmei que Strasbourg é linda! Apesar da loucura de viajar para outro país (ainda não sei se diariamente) e de ter que lidar com 4 línguas (quando cada vez mais tenho certeza de que o registro cerebral para língua estrangeira é um só!) para garantir o sofrimento de escrever uma dissertação em francês cujo título talvez nem tenha valor no Brasil, acho que vai ser bem bacana adentrar mais esse universo! Meu projeto é praticamente uma mistura de quase tudo o que me interessa: subjetividade, miséria, prevenção e clínica. Ou seja, a ideia é pensar as formas subjetivas da pobreza para buscar políticas sociais que façam sentido, que sejam eficazes e que incluam a participação ativa da população-alvo, para que esta seja tomada enquanto ator-social e não como mero objeto (e daí entra o viés da clínica). Ufa! Agora explica e desenvolve isso aí em francês! Ainda bem que tem mamãe pra traduzir! 

- presenciei um acidente horrível, em que o inofensivo do Strassenbahn que eu pego todo dia atropelou e matou uma mulher. E eu que achava tudo aqui lindo e tranqüilo, depois de estar bem no vagão da frente durante o acidente, ando meio assustada, me arrepio ao ouvir o alto-falante anunciando a estação onde aconteceu a tragédia e agora só atravesso as ruas praticamente bucólicas daqui olhando para os dois lados! 
  
- Bom, pra quebrar o clima chato da última notícia, compartilho algumas anotações:
. a relação deste povo com a nudez é outra. Na academia é um desfile de corpos, inclusive senhoras e gordas, indo e vindo peladonas dos chuveiros- coletivos, apesar da estrutura da academia ser top! - e da sauna- sim, tem sauna e terraço com espreguiçadeira, sentiu o clima? Agora, adivinha como se faz sauna aqui? Nuzinho, pelado, claro! A coisa é tão natural que hoje tomando banho, ainda sem me acostumar com a exposição do meu corpo semi-obeso às outras damas, quase tive um troço ao ver um homem, trabalhando na obra do terraço ao lado, com uma visão privilegiada do chuveiro feminino! E não é que o homem não estava nem um pouco interessado em olhar! Tudo bem que meu estado atual, com todas as maravilhas germânicas de queijo, leite e chocolate, não está nada admirável, mas me pareceu que ele nem checou (ainda bem!). Isso é uma coisa bem interessante, eles não têm esse nosso péssimo hábito de ficar reparando, julgando ou se metendo na vida alheia: nego dança MUITO estranho (imagina um casal dançando "junto", cada um uma música mental própria, ambas de ritmos inteiramente diferentes da que estava tocando!), anda nu, se veste bizarramente, usa micro shorts ou saias que mais parecem cintos (e eu que, ao arrumar mala, tirei os vestidos mais curtos, que aqui seriam saiões, por conta da dica de uma amiga de que aqui não se mostra muito as pernas), mas ninguém nem repara! 

- finalmente resolvemos nosso apartamento! Isso foi uma novela: se inicialmente o problema é que não tínhamos opção, pois éramos vetados em todos os processos seletivos das imobiliárias, depois a coisa se inverteu e ficamos em dúvida quanto a qual dos apês escolher! Acabamos fechando aquele que é longe, mas lindo e mobiliado. Mudaremos em 1 de julho; não vejo a hora de ter um lar para chamar de nosso! E o plus: teremos uma excelente estrutura para hóspedes!  Olha que este fator contou no nosso processo seletivo (quando pudemos tirar onda de que éramos nós quem escolheríamos o apartamento). Portanto, venham nos visitar!

Beijos saudosos