domingo, 18 de agosto de 2013

reta final (ou o começo da nova temporada)

Queridíssimos,

como todas as minhas outras coisas nesse momento, esse e-mail estava esperando a resposta da CAPES sobre minha bolsa pra doutorado. Está virando uma tortura essa espera infinita: até as compras do mercado dependem dessa bolsa (quantos litros de leite comprar - aproveitando o luxo de uma ida de carro ao longínquo mercado e considerando que leite é pesado - é uma matemática diretamente ligada ao fato de voltar em dois meses ou ficar mais 18 aqui! Detalhe que essa parte do mercado é a menos sofrida, estando as coisas da vida cotidiana que dependem dessa definição variando desde a revelação de fotos até o contrato do plano de saúde, passando pela compra da passagem de volta e pelo pedido de renovação de licença no Município, todos já no limite do prazo razoável!) Bom, minha ideia era escrever pra vocês já podendo dar a notícia de se volto definitivamente ou só por alguns meses, mas, já que minha ansiedade chegou no limite, resolvi compartilhar com vocês. Afinal, dividi-la é mais interessante do que ficar entrando no site da CAPES e indo em "situação do processo" reapertar o botão "pesquisar" a cada 2 minutos, ou visitando compulsivamente a comunidade facebookiana dos aspirantes a bolsistas, desesperados por notícias e quebrando a cabeça para entender a diferença entre "processo em análise quanto ao mérito" e "processo aguardando parecer da CAPES", ou pior, "processo aguardando parecer da CAPES - aguarde comunicação da CAPES" e "processo aguardando parecer e comunicação da CAPES"! Pois é, estudar pro doutorado virou ocupação para as horas que sobram da contagem de calorias e exercícios frenéticos (finalmente consegui perder os 13 quilos que não me pertenciam mas tinham se apaixonado por mim!! :o), e da tentativa de decifrar os enigmas do submundo da CAPES.
Engraçada essa odisseia: eu que super não queria prorrogar minha temporada aqui, pois morro de saudade da vida aí, acabei entrando na pilha de amigos e do marido e, seduzida por uma remota promessa de maternidade, encarando entrar na concorrência dessa tal bolsa, da qual não fazia a menor questão e que tentaria apenas pra fazer minha parte no desejo do Marco de aproveitar a fama e a possibilidade de estudar mais tempo aqui no paraíso dele. Sim, ele está bombando e me sinto super egoísta de cortar o barato (pula a parte dos lindos bebês, que a gente finge que não pesaram e que eu sou apenas mega companheira e generosa e não uma bomba-relógio-biológico na pré-menopausa, preocupada com a incompatibilidade entre idade fértil e tempo necessário pra ter dinheiro suficiente pra procriar no Rio de Janeiro!) Acabou que a empreitada inicialmente despretensiosa me envolveu e o plano de estudos que escrevi não só me deixou animada com o doutorado - que até então se justificava apenas pela necessidade de estar ligada à universidade pra fazer o estágio em La Borde - mas também crente de que meu projeto era bom e que ia ganhar a tal bolsa (ingênua!) Qual foi meu banho de água fria quando saiu a resposta negativa (bem verdade que, na ambivalência que estou, de início fiquei empolgada com a perspectiva de voltar logo pra minha tão cara vidinha brasileira!) Mas a louca aqui entrou na roubadinha de recorrer e, de novo, me engajar na escrita do recurso e me aproximar ainda mais da minha pesquisa. E nesses quase 3 meses de espera da resposta do recurso, já variei de estados de total descrença quanto à possibilidade de ganhar a bolsa, a especulações sobre essa demora de resultado, com manobras mentais que me levam a acreditar que tenho chances! Enfim, a parte boa disso tudo é que realmente me empolguei com esse tal doutorado. A parte ruim é que meu destino é absolutamente incerto e, se antes era divertido não saber qual seria minha vida nos próximos dois anos, agora as providências urgentes e suspensas estão me tirando do sério! (Detalhe: no meio disso tudo, surgiu ontem um convite pra ser babysitter de dois fofos mini-alemães na... Índia!)
Pelo menos o clima de despedida tem me feito aproveitar isso aqui tão intensamente que acho que estou virando uma alemoa. Ando tomando gosto pelas coisas que eu antes só admirava como quem está de fora: aproveitar cada raio de sol e ir muito ao lago no verão (até nado de óculos e touca, mas ainda não consigo ficar peladona!), fazer longos passeios e até viagens de bicicleta, conhecer a estação de cada fruta e comprar uns legumes esquisitos que eu sempre ignorei, aproveitar o esquema de caronas, super bem-organizado na internet, que é a forma mais barata, solidária e bacana pra viajar, ir a "churrascos", onde num grill elétrico se coloca umas linguiças e uns filés de frango que já são vendidos com molho e achar isso o máximo, fazer geleia das frutinhas colhidas nas "florestas" (que são qualquer espaço verde, na verdade, como o que tem aqui no final da nossa rua. Esta, aliás, chama-se "rua da Floresta Negra", uma querida!)
Enfim, ao mesmo tempo em que conto os dias pra estar aí de volta, fico tristíssima com a perspectiva de que a brincadeira aqui está acabando. De qualquer forma, estarei aí em outubro, seja pra passar uma temporada ou pra ficar. Sim, isso se não formos pra Índia...

Maria

PS: ironicamente, depois de 8 meses de espera, o tal resultado saiu hoje, antes de eu conseguir enviar este e-mail graças a um pau no hotmail que tirou minha conta do ar durante todo o dia: recurso indeferido, neca de bolsa e eu estou curiosamente aliviada e feliz: a volta pro Brasil é pra sempre <3