quarta-feira, 21 de setembro de 2011

o primeiro dia de aula é sempre como o primeiro dia de aula


Tá certo que eu sou chegada a um desafio. Eu mergulho de cabeça nos projetos mais absurdos e desconhecidos e, sortuda que sou, sempre dá tudo certo. Aí lá fui eu me meter a morar na Alemanha e fazer mestrado na França, achando que podia ainda fazer a acrobacia de estudar alemão, em vez de francês, que é um bocado precário pra quem ambiciona fazer um mestrado. E vai lá a criatura pro primeiro dia de aula, desta vez super tranqüila e segura, após a experiência bem-sucedida da inscrição, em que achava que não conseguiria comunicar nem “olá, vim fazer minha matrícula” e no fim funcionou super bem. Bom, pulando o atraso do trem, as várias baldeações que preciso fazer, as 3 horas de viagem e a parte em que eu resolvi ir a pé pra Universidade e que me perdi várias vezes e cheguei esbaforida, molhada de chuva e atrasada, o meu mais novo desafio começou lindamente. No que entro no instituto de psicologia perguntando sobre a reunião do mestrado, uma simpática senhora vira-se, sem que eu precisasse me apresentar, “Madame Kempér!” “Seja bem-vinda” e pede pra uma moça me levar até a sala de reunião. Uau, quer dizer que já sabiam quem eu era e eu nem precisava falar francês?! Que alegria! A mocinha, meio antipática, me acompanha e entra também na reunião. Idiotamente sento eu na cabeceira, onde havia uma cadeirinha livre, e onde se revela ser o lugar dos professores! Depois tentei trocar, mas foi tarde demais, me mandaram ficar. E a NOJENTA, CACHORRA, VACA da diretora do mestrado fala meia dúzia de informações inúteis e pede pras pessoas se apresentarem. Eu, morrendo de medo de ser a escolhida pra começar, pois estava bem do lado dela, mas, ufa!, meu anjo da guarda estava lá e o pesadelo começou pelo outro lado. Eis que a mocinha que entrou comigo se apresenta como brasileira, explicando que era seu segundo ano lá. Eu, toda feliz da vida, quase fico com câimbra facial de tanto sorrir e tentar me comunicar magicamente pelo olhar: “que legal, eu também, olha que lindo!!” E a brasileira, francesamente, caga mil kilos! Aí todos falam seus nomes, o que farão de estágio ou inserção em grupo de pesquisa, e seu tema. E eu, curiosamente tranquila, sendo a última a falar, faço exatamente o mesmo. Eis que a cachorra vira-se e diz: “em primeiro lugar, o fulano (de cuja pesquisa eu vou participar) não é professor; ele é apenas um colaborador associado. Em segundo lugar, “o que miséria tem a ver com psicanálise?” “Você está num mestrado em clínica”! Eu devia ter dito: “ah, jura?! Que coisa, me inscrevi neste programa, tive o trabalho de escrever um projeto de mestrado e preparar um dossiê enorme que foram aprovados por vocês, vim até aqui fazer a matrícula, gasto uma fortuna e um tempão, tendo que mudar de trem 3 vezes pra chegar até esta Universidade, e não tenho Ideia do que se trate!” Mas eu travei, paniquei, e não consegui explicar a relação entre meu projeto e clínica, que já é difícil de explicar em português, mas que, sim, obviamente, existe. E a vaca continuava a olhar pra mim: “então?” E eu não conseguia falar nada, as palavras não vinham!! Foi horrível! Até que eu consegui dizer que meu francês não era bom, mas que eu acreditava que aos poucos eu ia pegar, e que era difícil pra mim explicar, mas que, naturalmente, tinha a ver, sim. Mas depois disso quis morrer, desaparecer e, obviamente, não escutei mais nada da meia dúzia de abobrinhas que ela falou. E essa maldita reunião que me custou minha auto-confiança, a empolgação com o mestrado, 6 horas de viagem e 28 euros, durou menos de uma hora (embora tenha parecido uma eternidade!) e não me esclareceu uma vírgula das 247 dúvidas que tenho (a começar pelo horário maluco, que a cada vez que eu entro na internet pra confirmar, muda).
Bom, talvez eu não dê mesmo pra coisa acadêmica, apesar do meu percurso universitário (fui bolsista de iniciação científica a faculdade toda e era ótima aluna). Mas pelo menos eu sei fazer feijoada!! E mais: sei fazer duas feijoadas divinas em dias consecutivos (é, a primeira não durou até o almoço do dia seguinte!) Aliás, desafios não faltaram nesses últimos meses: aprendi a ter um novo estado civil, a gerenciar uma casa, a deixar de trabalhar loucamente, a cozinhar, faxinar, lavar roupa, a falar um pouco de alemão, a me virar neste país esquisito e a ter a cara de pau de encarar fazer um mestrado numa língua que eu não domino tão bem. E pra isso, preciso aprender, segundo minha amiga Olívia, ainda uma outra coisa: a fazer cara de cú quando a sorte, excepcionalmente, não estiver soprando a meu favor! :o)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

e-mail de 15 de setembro


Lindos,
Ando sumida, né? É que o negócio aqui esteve badalado: muitas visitas e várias viagens, uma delícia! Tio e prima, cunhada e cia e outra prima proporcionaram a maravilha de receber pessoas especiais na nossa casa gostosa e de viajar bastante por aí. Nossa, foram vários os destinos e vou dar uma de metida e citá-los aqui pra animá-los a vir ver como estamos no coração da Europa, de onde dá pra fazer várias viagens bate-volta:
 Rottemburg e Rothermburg (a Alemanha é tão louca que tem duas cidades próximas com nome igual e obviamente primeiro fomos parar na “errada”, que não deixa de ter seu charme! Mas a segunda é uma cidade medieval super preservada, completamente cercada por uma muralha) Stuttgart (cidade grande, rival aqui de Karlsruhe – tipo Rio e São Paulo, mas também bonita); Tübingen, Schiltach (duas cidadezinhas que parecem de boneca, com arquitetura enxaimel, a segunda no meio da Floresta Negra); o roteiro de Mainz a Koblenz, margeando o Reno com castelos cinematográficos cravados nas montanhas; Nuremberg e Bamberg (também preservadíssimas e cheias de história); Strasbourg (onde estarei quase que diariamente a partir de semana que vem e que é encantadora com seus vários canais); Baden-Baden (aqui do lado, é referência pelas termas); Praga (a mais incrível de todas, tem algo de mágico indescritível); Dresden (uma das cidades mais bombardeadas na II Guerra, hoje é símbolo da restauração alemã); Berlim (onde estive na casa onde meu pai nasceu!); Konstanz (principal cidade do Bodensee, a “praia” daqui); rota dos vinhos na Alsácia (lindíssima, com cidadezinhas de contos de fadas, cada uma com dezenas de vinículas familiares); Ulm (outra cidadezinha fofa, onde descobri em pleno centro histórico uma loja de aparelhos de som chamada Kemper); Dachau (o famoso campo de concentração – turismo forte esse); Murten (na Suíça, também cercada por uma muralha medieval, onde assistimos a um concerto lindo num castelo); Montraux, Lausanne e Gruyère (cidades suíças que parecem de mentira de tão lindas); Hamburgo (grande, a 2ª maior da Alemanha, especial pelo seu importante porto).
Ufa! Mas agora, de volta ao sossego desta minha roça, as férias mais longas da minha vida continuam!  Sofri horrores com o medo de não conseguir me comunicar na inscrição do mestrado, uma vez que o meu francês tinha ido parar num registro cerebral de algum lugar ainda não descoberto pela anatomia! Mas, ainda bem, ele logo foi ativado e deu tudo certo na matrícula. A galera foi super acolhedora e eu fique beem animada de recomeçar uma rotina bonitinha, de ter uma vida útil, essas coisas de estudar, sair de casa, voltar, igual a uma pessoa normal. Mas eis que a Universidade, bem no estilo brasileiro, resolve adiar em uma semana o início das atividades e eu ganhei uma semana de férias extra! Cá estou eu, então, às voltas com meus incríveis progressos culinários e na área das faxinas e lavagens de roupa! É, tenho me saído uma bela dona-de-casa! E agora, 17 kg mais gorda (tudo bem que todo mundo  sabe que é comum a mulher engordar depois do casamento, mas, peraí, eu usei essa desculpa, somada à de estar num país altamente calórico e extrapolei o limite do razoável em tempo recorde!), tenho o plus da missão de inventar pratos de baixíssima caloria porque encasquetei que tenho que emagrecer 10kg até novembro (senão vocês não vão me reconhecer na minha tão esperada visita ao Brasil! Sim, estou indo em novembro (!!!) mas já falo disso). Então tenho inventado coisas interessantíssimas – tipo sálvia na frigideira de tefal (sem gordura, claro!), alho no forno, couve-flor com alecrim e as sopas mais variadas.  Mas a missão do momento é conseguir o milagre de fazer da minha primeira feijoada uma delícia, pois finalmente teremos o nosso “open-house” com os nossos 10 amiguinhos que angariamos ao longo desses 5 meses aqui! Aí eu quero fazer bonito, com direito a brigadeiro e goiabada de sobremesa (graças à Eliana que, além de nos proporcionar uma boa parte daquelas viagens listadas acima e de ter me apresentado a várias artes da culinária, trouxe feijão, farinha de mandioca, cachaça, pão de queijo e goiabada!). Mas essas iguarias todas vão ter que parar na barriga apenas dos convidados e do marido, que ama muito tudo isso), porque a dieta aqui tem que resistir! Bom, voltando ao melhor assunto dos últimos tempos – MINHA IDA AO BRASIL, VIVA!! – a tarefa que nesses últimos dias tem mais me ocupado é de procurar passagens (tá caríssimo!). Tô me sentindo uma jogadora compulsiva - cada vez que olho os preços acho tão alto que fico na esperança de baixar, mas no dia seguinte aumentou!! É aquela esperança irreal que só te faz perder mais dinheiro! E o pior é escolher quais inúmeras aulas faltar, já que vou estar começando o mestrado (não tenho idéia do que é importante e o que não é e o raio do calendário de aulas muda a cada semana!). Bom, mas o motivo é nobre: vamos ser padrinhos de casamento do meu cunhado e, de quebra, mato as saudades!
Beijo gigante
E até breve
Maria