sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

rápidas


-A vizinha power-fofa tocou aqui agora pra dizer que tinha um trabalho pra mim. Ela tem uma amiga que quer “lições” em psicanálise. Custei a entender: perguntava o que ela queria exatamente e ela disse que a moça mencionou que gostaria de vir pra conversar. Perguntei se ela buscava um tratamento, uma análise. Ela disse imediatamente: “não, imagina, ela é muito saudável – é casada, o marido tem dinheiro!” Bom, expliquei que seria importante conversar com a moça pra entender melhor, mas que não seria possível, pois eu não tenho autorização pra clinicar aqui, não tenho consultório e, principalmente, tem o impedimento da língua! Ela disse que mencionou isso tudo pra amiga e a mesma disse que não tinha problema, que queria mesmo assim. Perguntei se ela falava inglês ou francês e ela disse que não!! Apesar dela saber que meu nível de alemão é baixíssimo, ela insistiu que eu tentasse e ainda soltou a pérola de que o Marco poderia traduzir!!! Hahahaha!

-Os franceses são super formais em alguns aspectos, como te chamar de “vous” em vez de “tu”, mas perguntam na lata quanto você ganha numa primeira conversa!

Ontem tinha uma comida especial no restaurante universitário: paella. Me animei e fui certeira, toda feliz. Era filé de peixe com arroz!

-A coisa aqui é bem escolar mesmo. Minha professora de francês reclama horrores quando alguém se atrasa, falta ou não faz o dever de casa! E a turma é só de adultos. O filho de uma amiga foi castigado, tendo que passar 5 horas preso na escola depois do fim das aulas por ter esquecido de devolver um livro na biblioteca!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

vida de faxineira

limpando o quarto do filho do patrão, que deve ter uns 18 anos, vi uma pistola, meio escondida numa caixa com fundo falso. O que fazer?!  
(by the way, o quarto não devia ser faxinado desde a década de 80!)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

de volta


lindos do meu Brasil,
faz um pouco mais de duas semanas que eu voltei e ando querendo escrever desde então pra agradecer tanto calor, que me renovou as energias pra encarar esse inverno brabo (aliás, oficialmente nem é inverno ainda e eu não consigo imaginar como vou sobreviver, pois mal consigo andar com tanto casaco,meias, bota, luvas, gorro, cachecol)! 
De cara, foi muito esquisito estar aqui de novo, sensação de desterritorialização, como no inicinho. E o curioso é que isso aconteceu na minha chegada no Brasil também, pra qual eu estava tão, mas tão empolgada que, de repente, ao desembarcar no Tom Jobim, ficou tudo estranho-familiar (papo psicanalítico). Também, depois de voltar a me sentir em casa, esses 17 dias aí foram um carnaval maravilhoso pra mim!!
Enfim, foi duro voltar, especialmente por conta do frio, que já estava bem mais cruel do que quando tínhamos saído daqui. Se por um lado, a rotina exaustiva de ir pro mestrado ficou ainda mais difícil com o frio a ser encarado nos intervalos intermináveis entre um trem e outro, por outro lado, foi bom logo estar super ocupada e não ter tempo pra ficar "fazendo o luto" de ter deixado mais uma vez a pátria amada. E essa ambivalência em relação ao mestrado permaneceu até hoje: um lado da moeda me permite conhecer e estar numa cidade incrível (Strasbourg é lindíssima, com seus vários canais e arquitetura medieval, e ao mesmo tempo super cosmopolita, com mil eventos e gente do mundo todo e de todos os tipos! Além disso, nesta época as folhas têm oferecido um espetáculo de cores entre o amarelo e vermelho - dizem que este outono está especialmente bonito. Sem falar na decoração de natal, que começou nesta semana, tendo a cidade um dos mais famosos mercados natalinos - algo super típico aqui); o outro lado é sofrer em aulas intermináveis em que o pouco do francês que eu entendo me diz que o nível daqui, pra minha triste decepção, é fraquíssimo!! As aulas me lembram o início da faculdade e, apesar disso, eu me sinto tendo um retardo mental moderado ao não entender boa parte do que é dito e fugir das pessoas pra não ter que falar! Sem condições, então, de participar nas aulas, coisa que eles super fazem (aliás, rola um clima meio infantilizado, em que todos querem falar, muitos estão com seus notebooks, a maioria anotando freneticamente cada sílaba do professor! Ocorre que o mestrado aqui é quase uma continuação obrigatória da graduação, que é muito mais curta que a nossa). É muito estranho estar de novo neste lugar de iniciante, em que ninguém me conhece e eu não sou ninguém aqui, apesar da minha trajetória. Embora venha aprendendo com essa experiência, durante as duas últimas semanas, surgiu várias vezes a vontade de largar o mestrado, que me parecia só um investimento enorme - pessoal, financeiro, temporal, físico - sem retorno, pois além de ter a sensação de que não vou aprender nada, sequer sei se vou conseguir validar o título no Brasil. Além disso, só pensava que o que eu mais queria fazer era estar totalmente livre pra viajar e que preciso ganhar dinheiro e, tendo tempo de sobra, posso me candidatar pra faxinar mais casas (sim, agora sou faxineira!!) Mas, por outro lado, o estudo, a possibilidade de escrever uma dissertação, a própria chance de realmente aprender francês, e necessidade de me manter ocupada de forma mais produtiva no sentido amplo do termo, justificavam. E nesta semana percebi que meu francês melhorou bastante (também, ouvindo a tal língua o dia inteiro, fazendo dois cursos e tendo dois Tadem Partners - que são amiguinhos que te ensinam uma língua em troca de você ensiná-los a sua): tenho tido coragem de me aproximar das pessoas, já consigo acompanhar as aulas e descobri que uma delas (uma!) é até interessante! Aí fiquei bem animada, achando que é isso mesmo, que as coisas levam um tempo pra se delinear.
Pra além disso, o fato de estar agora adentrando numa outra cultura (apesar de Strasbourg ser aqui do ladinho e já ter pertencido algumas vezes à Alemanha, é um novo mergulho antropológico!) me permite novamente exercitar do zero meu olhar de estrangeira, o que pra mim é o mais rico dessa experiência de morar fora - você desnaturaliza tudo o que é familiar e aprende um bocado com as diferenças, incorporando o que é legal na outra cultura, valorizando o que é bacana na sua, e tendo um olhar mais crítico com o que não presta e você nem tinha reparado). É engraçado isso de já ter naturalizado coisas que antes pareciam tão estranhas, como separar o lixo. Isto foi algo que me deu uma dor de cabeça enorme no início (aqui na Alemanha são 7 tipos de lixo!), mas que acho que vale como aprendizado pro resto da vida. E cá estou eu achando um ABSURDO os franceses não separarem lixo, querendo jogar o orgânico em um lugar diferente da embalagem no restaurante universitário!! Aliás, só pra manter o hábito dos meus relatórios engraçadinhos sobre as diferenças: os franceses ADORAM assoar o nariz! Mas é uma coisa tão intensa, que não tem uma aula que alguém não peça um lenço (na sala, na rua, no bonde, todo mundo está com seu saquinho de lenços a tiracolo, e na maior parte das vezes assoando nada!) Mas também quando tem o que assoar, o troço é tão alto que rola um meio minuto sem ouvir o que o professor está falando (em geral exatamente naquele momento em que eu finalmente consegui começar a acompanhar alguma coisa e que eu vou levar outras 2 horas pra retornar ao fio da meada!) Outra mania francesa são os fones de ouvido - não se vê uma criatura abaixo dos 35 anos na rua sem um mega fone de ouvido, desses que até parecem protetor de orelha pro frio! E aí no bonde as músicas se confundem, tão alto que se ouve. Falando em bonde, rola uma burrice generalizada do povo colar nas portas e não gostar nem um pouco de dar licença pra quem quer entrar, o que faz com que seja uma guerra pegar um bonde, que parece mega lotado, mas na verdade está vazio nos corredores! E eu que sempre tento passar pro corredor, levo umas caras bem feias por ter que pedir licença! Mas em geral os Strasbourgeoises são super simpáticos e solícitos, sendo tantos estrangeiros presentes na cidade, que o inglês é quase língua oficial também, apesar da nossa ideia de que não se fala inglês na França. 
Bom, outras coisas são iguaizinhas à Alemanha, como a comida (só muda o nome!!) e as escovinhas de privadas em todos os banheiros públicos (dos restaurantes à universidade, você deve limpar a privada com escova que fica ali, em cada cabine, já com o desinfetante no suporte dela, após fazer o número 2!)
Bom, queridos, já chega de escrever! Tô com feijão no fogo (sábado tem feijoada pra brasilianada do Instituto Goethe - onde Marco fez o alemão nos meses inciais). Pois é, tô ficando especialista é em dona de casa, esse tal mestrado é só um passatempo!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

o primeiro dia de aula é sempre como o primeiro dia de aula


Tá certo que eu sou chegada a um desafio. Eu mergulho de cabeça nos projetos mais absurdos e desconhecidos e, sortuda que sou, sempre dá tudo certo. Aí lá fui eu me meter a morar na Alemanha e fazer mestrado na França, achando que podia ainda fazer a acrobacia de estudar alemão, em vez de francês, que é um bocado precário pra quem ambiciona fazer um mestrado. E vai lá a criatura pro primeiro dia de aula, desta vez super tranqüila e segura, após a experiência bem-sucedida da inscrição, em que achava que não conseguiria comunicar nem “olá, vim fazer minha matrícula” e no fim funcionou super bem. Bom, pulando o atraso do trem, as várias baldeações que preciso fazer, as 3 horas de viagem e a parte em que eu resolvi ir a pé pra Universidade e que me perdi várias vezes e cheguei esbaforida, molhada de chuva e atrasada, o meu mais novo desafio começou lindamente. No que entro no instituto de psicologia perguntando sobre a reunião do mestrado, uma simpática senhora vira-se, sem que eu precisasse me apresentar, “Madame Kempér!” “Seja bem-vinda” e pede pra uma moça me levar até a sala de reunião. Uau, quer dizer que já sabiam quem eu era e eu nem precisava falar francês?! Que alegria! A mocinha, meio antipática, me acompanha e entra também na reunião. Idiotamente sento eu na cabeceira, onde havia uma cadeirinha livre, e onde se revela ser o lugar dos professores! Depois tentei trocar, mas foi tarde demais, me mandaram ficar. E a NOJENTA, CACHORRA, VACA da diretora do mestrado fala meia dúzia de informações inúteis e pede pras pessoas se apresentarem. Eu, morrendo de medo de ser a escolhida pra começar, pois estava bem do lado dela, mas, ufa!, meu anjo da guarda estava lá e o pesadelo começou pelo outro lado. Eis que a mocinha que entrou comigo se apresenta como brasileira, explicando que era seu segundo ano lá. Eu, toda feliz da vida, quase fico com câimbra facial de tanto sorrir e tentar me comunicar magicamente pelo olhar: “que legal, eu também, olha que lindo!!” E a brasileira, francesamente, caga mil kilos! Aí todos falam seus nomes, o que farão de estágio ou inserção em grupo de pesquisa, e seu tema. E eu, curiosamente tranquila, sendo a última a falar, faço exatamente o mesmo. Eis que a cachorra vira-se e diz: “em primeiro lugar, o fulano (de cuja pesquisa eu vou participar) não é professor; ele é apenas um colaborador associado. Em segundo lugar, “o que miséria tem a ver com psicanálise?” “Você está num mestrado em clínica”! Eu devia ter dito: “ah, jura?! Que coisa, me inscrevi neste programa, tive o trabalho de escrever um projeto de mestrado e preparar um dossiê enorme que foram aprovados por vocês, vim até aqui fazer a matrícula, gasto uma fortuna e um tempão, tendo que mudar de trem 3 vezes pra chegar até esta Universidade, e não tenho Ideia do que se trate!” Mas eu travei, paniquei, e não consegui explicar a relação entre meu projeto e clínica, que já é difícil de explicar em português, mas que, sim, obviamente, existe. E a vaca continuava a olhar pra mim: “então?” E eu não conseguia falar nada, as palavras não vinham!! Foi horrível! Até que eu consegui dizer que meu francês não era bom, mas que eu acreditava que aos poucos eu ia pegar, e que era difícil pra mim explicar, mas que, naturalmente, tinha a ver, sim. Mas depois disso quis morrer, desaparecer e, obviamente, não escutei mais nada da meia dúzia de abobrinhas que ela falou. E essa maldita reunião que me custou minha auto-confiança, a empolgação com o mestrado, 6 horas de viagem e 28 euros, durou menos de uma hora (embora tenha parecido uma eternidade!) e não me esclareceu uma vírgula das 247 dúvidas que tenho (a começar pelo horário maluco, que a cada vez que eu entro na internet pra confirmar, muda).
Bom, talvez eu não dê mesmo pra coisa acadêmica, apesar do meu percurso universitário (fui bolsista de iniciação científica a faculdade toda e era ótima aluna). Mas pelo menos eu sei fazer feijoada!! E mais: sei fazer duas feijoadas divinas em dias consecutivos (é, a primeira não durou até o almoço do dia seguinte!) Aliás, desafios não faltaram nesses últimos meses: aprendi a ter um novo estado civil, a gerenciar uma casa, a deixar de trabalhar loucamente, a cozinhar, faxinar, lavar roupa, a falar um pouco de alemão, a me virar neste país esquisito e a ter a cara de pau de encarar fazer um mestrado numa língua que eu não domino tão bem. E pra isso, preciso aprender, segundo minha amiga Olívia, ainda uma outra coisa: a fazer cara de cú quando a sorte, excepcionalmente, não estiver soprando a meu favor! :o)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

e-mail de 15 de setembro


Lindos,
Ando sumida, né? É que o negócio aqui esteve badalado: muitas visitas e várias viagens, uma delícia! Tio e prima, cunhada e cia e outra prima proporcionaram a maravilha de receber pessoas especiais na nossa casa gostosa e de viajar bastante por aí. Nossa, foram vários os destinos e vou dar uma de metida e citá-los aqui pra animá-los a vir ver como estamos no coração da Europa, de onde dá pra fazer várias viagens bate-volta:
 Rottemburg e Rothermburg (a Alemanha é tão louca que tem duas cidades próximas com nome igual e obviamente primeiro fomos parar na “errada”, que não deixa de ter seu charme! Mas a segunda é uma cidade medieval super preservada, completamente cercada por uma muralha) Stuttgart (cidade grande, rival aqui de Karlsruhe – tipo Rio e São Paulo, mas também bonita); Tübingen, Schiltach (duas cidadezinhas que parecem de boneca, com arquitetura enxaimel, a segunda no meio da Floresta Negra); o roteiro de Mainz a Koblenz, margeando o Reno com castelos cinematográficos cravados nas montanhas; Nuremberg e Bamberg (também preservadíssimas e cheias de história); Strasbourg (onde estarei quase que diariamente a partir de semana que vem e que é encantadora com seus vários canais); Baden-Baden (aqui do lado, é referência pelas termas); Praga (a mais incrível de todas, tem algo de mágico indescritível); Dresden (uma das cidades mais bombardeadas na II Guerra, hoje é símbolo da restauração alemã); Berlim (onde estive na casa onde meu pai nasceu!); Konstanz (principal cidade do Bodensee, a “praia” daqui); rota dos vinhos na Alsácia (lindíssima, com cidadezinhas de contos de fadas, cada uma com dezenas de vinículas familiares); Ulm (outra cidadezinha fofa, onde descobri em pleno centro histórico uma loja de aparelhos de som chamada Kemper); Dachau (o famoso campo de concentração – turismo forte esse); Murten (na Suíça, também cercada por uma muralha medieval, onde assistimos a um concerto lindo num castelo); Montraux, Lausanne e Gruyère (cidades suíças que parecem de mentira de tão lindas); Hamburgo (grande, a 2ª maior da Alemanha, especial pelo seu importante porto).
Ufa! Mas agora, de volta ao sossego desta minha roça, as férias mais longas da minha vida continuam!  Sofri horrores com o medo de não conseguir me comunicar na inscrição do mestrado, uma vez que o meu francês tinha ido parar num registro cerebral de algum lugar ainda não descoberto pela anatomia! Mas, ainda bem, ele logo foi ativado e deu tudo certo na matrícula. A galera foi super acolhedora e eu fique beem animada de recomeçar uma rotina bonitinha, de ter uma vida útil, essas coisas de estudar, sair de casa, voltar, igual a uma pessoa normal. Mas eis que a Universidade, bem no estilo brasileiro, resolve adiar em uma semana o início das atividades e eu ganhei uma semana de férias extra! Cá estou eu, então, às voltas com meus incríveis progressos culinários e na área das faxinas e lavagens de roupa! É, tenho me saído uma bela dona-de-casa! E agora, 17 kg mais gorda (tudo bem que todo mundo  sabe que é comum a mulher engordar depois do casamento, mas, peraí, eu usei essa desculpa, somada à de estar num país altamente calórico e extrapolei o limite do razoável em tempo recorde!), tenho o plus da missão de inventar pratos de baixíssima caloria porque encasquetei que tenho que emagrecer 10kg até novembro (senão vocês não vão me reconhecer na minha tão esperada visita ao Brasil! Sim, estou indo em novembro (!!!) mas já falo disso). Então tenho inventado coisas interessantíssimas – tipo sálvia na frigideira de tefal (sem gordura, claro!), alho no forno, couve-flor com alecrim e as sopas mais variadas.  Mas a missão do momento é conseguir o milagre de fazer da minha primeira feijoada uma delícia, pois finalmente teremos o nosso “open-house” com os nossos 10 amiguinhos que angariamos ao longo desses 5 meses aqui! Aí eu quero fazer bonito, com direito a brigadeiro e goiabada de sobremesa (graças à Eliana que, além de nos proporcionar uma boa parte daquelas viagens listadas acima e de ter me apresentado a várias artes da culinária, trouxe feijão, farinha de mandioca, cachaça, pão de queijo e goiabada!). Mas essas iguarias todas vão ter que parar na barriga apenas dos convidados e do marido, que ama muito tudo isso), porque a dieta aqui tem que resistir! Bom, voltando ao melhor assunto dos últimos tempos – MINHA IDA AO BRASIL, VIVA!! – a tarefa que nesses últimos dias tem mais me ocupado é de procurar passagens (tá caríssimo!). Tô me sentindo uma jogadora compulsiva - cada vez que olho os preços acho tão alto que fico na esperança de baixar, mas no dia seguinte aumentou!! É aquela esperança irreal que só te faz perder mais dinheiro! E o pior é escolher quais inúmeras aulas faltar, já que vou estar começando o mestrado (não tenho idéia do que é importante e o que não é e o raio do calendário de aulas muda a cada semana!). Bom, mas o motivo é nobre: vamos ser padrinhos de casamento do meu cunhado e, de quebra, mato as saudades!
Beijo gigante
E até breve
Maria

domingo, 24 de julho de 2011

Ich liebe Deutschland


Hoje comemoro 4 meses de Alemanha. Que louco! Ao mesmo tempo que passou muito rápido, parece que minha tão cara vidinha brasileira está num passado meio longínquo... Já me sinto em casa aqui, é como se cada vez menos estrangeira eu fosse. Aos poucos, a cultura alemã nos é tão familiar que já nos acostumamos com o que antes causava tanta estranheza. Acho que, nesse sentido, o que merece mais destaque é a total quebra dos estereótipos que tínhamos. Pra começar, os alemães, pelo menos os daqui do sul, não são, de maneira geral, nem altos, nem louros (naturais, porque, curiosamente a maioria das mulheres pinta o cabelo de louro claro). Alguns dos apartamentos que visitamos no início foram descartados porque simplesmente nós dois (tudo bem, muito altos para os padrões brasileiros, mas para os alemães também!) não cabíamos debaixo do chuveiro, ou mesmo para lavar louça, por o teto ser muito baixo! Mesmo aqui na nossa “mansão”, que é sótão, muitas vezes batemos a cabeça nas quinas do teto até nos acostumar. Outro ponto que muito me intrigou é que os alemães, que, são, sim, muito organizados em alguns aspectos, são às vezes tão caóticos e burrocráticos como nós. Na prefeitura onde nos registramos, foi um problemão para eu conseguir minha permissão de residência: mesmo com toda a documentação do DAAD (programa de intercâmbio do Marco, que é vinculado ao consulado e que estimula também a vinda de cônjuges) e com todas as orientações, tivemos que voltar lá 7 vezes e a cada ida, a funcionária dava uma informação diferente, uma nova exigência que me impedia de conseguir o visto! Tivemos que, com o nosso jeitinho brasileiro, pedir a intervenção da pessoa responsável pela bolsa do Marco! Não houve um contrato que assinamos aqui (telefonia móvel, internet, aluguel, academia) que não tenha nos dado a maior dor de cabeça. Pra começar, ao contratar qualquer serviço aqui, você precisa dar os dados bancários e a cobrança é feita sempre em débito automático, sem sequer se receber um boleto ou uma conta! Em todos os casos listados acima, tivemos problemas: todas as prestadoras de serviço cobraram a mais ou por mais tempo, mesmo depois de termos cancelado o contrato, e pra resolver esses problemas aqui é igualzinho ao Brasil: horas de telefonemas, funcionários incompetentes, informações não registradas, com o agravante de que a gente não tem telefone fixo e todas essas ligações, feitas de celular, são caras, mesmo quando é pra própria operadora! O nosso primeiro contrato de aluguel, então, está sendo o maior problema. Depois do babaca do proprietário do nosso antigo apartamento entrar daquele jeito, ditando regras sobre como deveríamos arrumar a “nossa” casa, finalmente finalizamos o contrato na data prevista e até agora, quase um mês depois, não recebemos de volta os 540 euros da caução (aqui paga-se, além de uma taxa alta de porcentagem para a imobiliária, caso se tenha fechado um contrato de aluguel com corretor, um caução para garantir o custo de quaisquer danos feitos no apartamento). Bom, os serviços aqui são super precários, é algo inacreditável. Já escrevi sobre como são ineficientes, por exemplo, os tais corretores, que recebem o valor de cerca de 3 alugueis (uma média de 1500 euros!) pelo “trabalho” de te mostrar um apartamento. A má qualidade do atendimento é meio regra geral aqui: é raro encontrar uma garçonete que não seja antipática, ou um comércio que tenha funcionários prestativos. Eu atribuía à cultura de independência dos alemães o fato de, por exemplo, numa loja você ter que se virar pra procurar seu tamanho de roupa ou de sapato, ou comprar um móvel em que você mesmo busca as peças na loja, carrega pra casa e depois monta. Mas tenho reparado que também tem a ver com a maneira como se encara o trabalho. A impressão que dá é que as pessoas não se preocupam em trabalhar bem, talvez por não haver tanta concorrência no mercado de trabalho, ou pelas taxas de desemprego não serem tão altas. Certamente tem também a ver com uma qualidade de vida maior, em que, em geral, se chega em casa às 5 da tarde, e muitas vezes não se trabalha às sextas-feiras. A mentalidade capitalista, definitivamente, não reina aqui: além de ninguém estar nem aí para a qualidade do serviço prestado e se o cliente vai ou não voltar, o comércio aqui NUNCA abre aos domingos, fecha, em geral, às 20h o mais tardar e, comumente, não funciona às quartas, além de alguns fazerem uma pausa diária para a siesta! Aqui não existe mercado ou qualquer outra coisa 24 horas, nem entrega em casa, nem serviço em domicílio, nem funcionário para fazer por você qualquer coisa que você possa fazer sozinho! A exceção é para o comércio ou para funcionários estrangeiros, estes sim super simpáticos e muitas vezes com horários menos germânicos. Aliás, os estrangeiros, como eu disse em outro post, parecem maioria aqui. São vistos por todas as partes, muitos abrem comércio, são empregados em todos os setores da economia alemã, parece que trabalham bem melhor e, não à toa, são “importados” de todo o mundo para fortalecer a economia e a academia alemã. Aos poucos começamos a entender esse estímulo do governo alemão para a vinda de estrangeiros (a bolsa do Marco é um exemplo). No meu curso atual de alemão, todos os professores, sem exceção, são estrangeiros! E são incrivelmente melhores que a senhorinha germânica da outra escola. Ah, a língua alemã merece um post à parte! Mas funciona igualzinho: aparentemente super precisa e organizada – tem uma palavra pra cada exato sentido (por exemplo, ir ou se perder à pé ou ir ou se perder de carro), mas tem palavras iguais para sentidos muito diferentes (por exemplo: andar e correr, namorado e amigo – tudo bem que esta diferença também não existe em inglês, mas vamos combinar que o alemão é uma língua beeeeeem mais complexa, com muito mais palavras). Fora a ordem das coisas na frase: em muitas construções é preciso dar todas as informações (sujeito, tempo, causa, modo, local) para, no final, às vezes de uma frase enorme, vir o verbo, que traz a idéia principal! Ou seja, você só diz ou só entende o sentido no final. Mas apesar de ser uma língua difícil, eu tenho adorado estudar alemão e sinto muita pena de agora encerrar o curso, pra viajar um pouco e depois me organizar pro mestrado, que começa em setembro. Agora, um ponto positivo da desconstrução dos estereótipos do alemão foi a surpresa de vê-los festivos, animados e muitas vezes tão espontâneos quanto a gente. Nos bondes, as conversas são tantas e tão altas, que chega a ser bem barulhento, ao contrário da discrição e da contenção que imaginávamos. E, apesar dos serviços, em geral, funcionarem mal, temos encontrado algumas pessoas extremamente simpáticas e prestativas. No verão, então, as ruas são uma festa, com mil eventos rolando, pessoas animadas, bebendo e curtindo a vida. Os fins de semana parecem um pouco o nosso carnaval, com festivais, gente fantasiada e muitos noivos, em despedida de solteiro, fazendo brincadeiras e abordando pessoas nas ruas, um barato. Em Heidelberg, fomos “atacados” por um grupo de moças querendo cortar a etiqueta da cueca do Marco! É claro que contribuímos para a tarefa da despedida de solteira, mas eu fiz questão de ajudar a localizar o objeto de desejo das meninas!

sábado, 9 de julho de 2011

Anotações

-impressionante a quantidade de estrangeiros na Alemanha e em Karlsruhe. Já não me chama atenção escutar diversas línguas no bonde: italiano, espanhol, português, inglês (em geral com sotaque americano), grego, russo... A comunidade brasileira de Karlsruhe é enorme e não é incomum ouvir samba, ver capoeira ou avistar uma bandeira do Brasil por aí. O que mais me surpreende são as mulheres árabes, algumas cobertas da cabeça aos pés, outras apenas com o lenço na cabeça, muitas delas modernas e estilosas, fazendo compras, academia, dirigindo, andando com outras mulheres que não usam o véu. Tenho a impressão que Karlsruhe tem mais estrangeiros que alemães. Parece que esta presença maciça de imigrantes tem a ver com a necessidade de mão-de-obra, carência tanto da Alemanha pós-guerra quanto de hoje, com densidade demográfica decrescente. Por isso, o estímulo (ou a não coerção mais agressiva) da imigração. Outro aspecto que permite essa maior tolerância com os estrangeiros é a herança cultural da Alemanha pós-nazismo, que faz de tudo para se afirmar como um país pacífico, que acolhe as diferenças e respeita a comunidade internacional. Apesar de muitos brasileiros se queixarem de preconceito, eu sinto que ser estrangeira aqui é a coisa mais natural do mundo.

minha turma de alemão ilustra bem as diversas origens dos estrangeiros aqui: Macedônia, México, China, Canadá, Itália, Coreia, Colômbia, Líbia, Síria, Rússia...


- já falei da nudez, mas a naturalidade com que os alemães lidam com ela continua me surpreendendo. Acho interessante não haver nenhuma questão em se estar nu, sem qualquer sexualização ou desconforto. Na academia, as moças (e as velhas, mesmo as muito gordas), além de fazerem sauna e de andarem para lá e para cá peladonas no enorme vestiário, tomam banho de sol no terraço, que é exposto para a cidade inteira! E parece não haver nada mais natural do que deitar pelada numa espreguiçadeira com mil janelas em volta. Realmente acredito que a vizinhança fique absolutamente indiferente, pois aqui ninguém parece estar preocupado em olhar para ninguém, esteja nu, bêbado fazendo baderna, fantasiado ou vestindo trajes exóticos. Tem sido libertador o exercício de deixar a vaidade de lado, não me preocupar tanto com o que eu visto, ou como me comporto, mas acho que estar nua na presença de alguém não vai se tornar algo natural... 


-as bicicletas aqui são tão respeitadas que os carros raramente as ultrapassam. O ciclista simplesmente indica com o braço se vai entrar numa rua e os carros é que parem. Parece que há um planejamento governamental para tornar a vida dos motoristas cada vez mais insuportável. Então os Strassenbahns, os pedestres e as bicicletas têm sempre prioridade no trânsito, ampliam-se as áreas restritas a carros, cobra-se caríssimo para estacionar e disponibiliza-se poucas vagas. A proposta é excelente, até porque o transporte público funciona maravilhosamente bem. É possível prever o itinerário completo pela internet, colocando-se origem, destino e horário desejado de chegada ou de partida. Sabe-se exatamente em que horário o bonde passa em cada estação e na maioria delas tem até um painel eletrônico com a previsão de horário de chegada de cada linha. Só para ilustrar como tudo aqui é mais bem planejado: Karlsruhe não é uma cidade muito grande e já está em obras para o metrô porque a previsão é de que daqui a 10 anos a malha viária atual não vá dar conta do movimento crescente!

sábado, 25 de junho de 2011

começando bem o dia!

Depois de uma farra ontem, coisa rara na nossa vidinha atual, em que bebemos todas e chegamos de manhã em casa, fomos acordados com interfone e campanhia tocando, pelo simpático proprietário do nosso apartamento. Sem nenhum pedido de desculpas pelo inconveniente de nos acordar em pleno sábado de manhã e invadir “nossa” casa (dele, mas estamos pagando caríssimo por ela!), ele começa a reclamar que está tudo bagunçado, que nunca viu o apartamento tão mal cuidado!!! Como assim?! Ainda veio afirmar que o mofo, que se espalha por todos os lugares, é culpa do nosso descuido!! Quer dizer que o fato disso aqui ser subsolo, sem iluminação, sem ventilação e de estar um frio do caramba, com o aquecimento desligado, não tem nada a ver com a umidade e a culpa é da minha faxina semanal, que minha coluna tanto odeia! Caraca, que raiva! O pior foi morrer de medo dele resolver embolsar nossos 540 euros  de caução na hora de finalizar o contrato de aluguel e ter que arrumar a casa toda às pressas e simpaticamente chamar ele pra conversar. É muito louco isso: pagamos essa grana do caução adiantada e estamos totalmente submetidos à avaliação dele, que decide devolver ou não o dinheiro!  Estou me sentindo em pleno regime nazista!
Ainda bem que semana que vem mudamos pra nossa linda mansão. Não vejo a hora!!

OBS: Sem comentários quanto ao meu incômodo com a bagunça do Marco, que, a despeito da minha eterna tentativa de manter as coisas em ordem,  parece o Taz, aquele bicho que passa feito um furacão! 

E já que o assunto do post novo é apartamento, copio um dos primeiros e-mails, de março, sobre a loucura que é o mercado imobiliário aqui

Caríssimos do meu coração
as notícias aqui não são muito animadoras. Está dificílimo encontrar apartamento. A maioria das imobiliárias ou proprietários nem dá ideia pra gente por sermos estrangeiros, estudantes e de baixa renda! É uma loucura isso aqui: a taxa que o locatório tem que pagar pro corretor corresponde em geral a dois meses e meio de aluguel, o que pode chegar a 1800 euros e eles não fazem absolutamente nada! Aliás, os serviços aqui são péssimos. Outro dia, rodando desesperados por Karlsruhe, cidade onde vamos morar, vimos um anúncio de ótimas ofertas de apartamento na vitrine de uma imobiliária. Tentamos entrar e não era lá, mas no quarteirão seguinte. Chegamos e paramos na porta, sendo vistos por uma funcionária que estava lá dentro e nem se mexeu. Tivemos que bater na porta algumas vezes até ela fazer um gesto, super de má vontade, de que a entrada era do outro lado. Demos a volta e interfonamos para ouvir do grosso que finalmente atendeu que não havia ninguém disponível!! Outra imobiliária para a qual telefonamos não sabia informar qual era a data da visita ao apartamento que queríamos, mandando o Marco ligar novamente 4 vezes até, dois dias depois, finalmente saber dar alguma informação: que o imóvel não estava mais disponível! Enfim, o único apartamento que encontramos e que tivemos o aval do proprietário pra assinar contrato era um sótão que tinha um teto tão baixo que precisaríamos lavar louça e tomar banho sentados! Os outros ou não alugam para pessoas com menos de 40 anos, ou são para apenas uma pessoa, ou não têm janelas, ou só vagam em julho, ou pedem um contrato de 7 anos! E mesmo assim a concorrência é grande e a chance de rodarmos é enorme. Tem até golpe: outro dia recebemos um e-mail com fotos de um lugar incrível. Lindo, bem localizado, todo mobiliado e menos de metade do preço dos lugares horríveis que temos visto. É claro que respondemos na hora falando do nosso interesse e a mulher mandou um papo de que mora em Londres e não teria como mostrar o apartamento mas que podíamos fechar e até ficar com os móveis e eletrodomésticos, bastando para isso depositar o equivalente a alguns meses de aluguel!  Por enquanto estamos em Freiburg no alojamento de estudantes do curso de alemão do Marco, que já acabou. Além de estarmos acampados, com 6 malas espremidas num quarto que seria só pra um, temos que sair no dia 1 de abril e não é mentira. Isso aqui é uma experiência antropológica: tem os árabes vestidos com camisolas, os orientais que falam cantando e só estudam, o pessoal da Tanzãnia que é super gente boa, os franceses super metidos, os espanhóis que ficam tentando socializar em portunhol com os brasileiros, que são quase maioria e fazem a maior festa no refeitório. Aliás, dividir a cozinha com essa gente toda é uma experiência à parte. O cheiro é tão forte que depois de cozinhar nossas roupas ficam impregnadas por dias. E os árabes, que não comem porco, ficam desesperados com a fumaça do porco feito pelos orientais.  Bom, pelo menos é divertido. E os dias têm estado lindos, com sol e não muito frio. Pena que não estamos ainda conseguindo curtir a cidade, que é maravilhosa, nesses nossos últimos dias aqui, pois temos ido quase que diariamente a Karlsruhe para ver apartamento. Quando não, ficamos trancados no quarto, pesquisando sites de imobiliárias e telefonando. Enfim, enquanto é tudo novidade está bom. Tomara que em breve, quando deixar de ser novidade, tenhamos nosso cantinho bonitinho pra receber vocês num imóvel “com condições adequadas de higiene, ventilação e iluminação, além de rede hidráulica e elétrica”, conforme os sumários do MOTE que também têm sido parte do meu castigo nesse início aqui. Vale incluir que é importante também um sistema de calefação eficaz, embora agora a tendência seja só esquentar e parece que o verão aqui é brabo, sendo ventilador artigo de luxo. Por hora, não estamos fazendo nenhuma dessas exigências!
Beijo enorme
Frau Lima
(sim, esta sou eu aqui! Aliás vou começar a procurar correndo um curso de alemão pra não precisar mais ficar fazendo cara de paisagem quando o Herr Lima está mandando ver no alemão e o interlocutor responde olhando pra mim!)

Em tempo: escrevi este e-mail de manhã e não foi enviado porque estava sem conexão. Preciso fazer esse adendo pra dar boas noticias, depois de um dia exaustivo em Karlsruhe: achamos um apartamento lindo, baratíssimo e mobiliado! É super longe, quase na roça, mas num lugar charmoso. Só que só podemos entrar em julho. Agora a busca vai ser por um albergue ou algo do gênero onde possamos ficar acampados por 3 meses. E pra quem acha que tudo funciona bem por aqui: o trem de volta foi cancelado e tivemos que pegar o seguinte, duas horas depois, chegando só agora, uma da manhã, com os supermercados já todos fechados e sem nada pra fazer um jantarzinho...  Mas amanhã devemos tomar café com uma brasileira, psicanalista e cantora, que vai ensinar uma parte do caminho das pedras. Boa noite, pessoal!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

E uma história do início de abril, pra quem não recebeu por e-mail...

Coisas muito curiosas acontecem por estas bandas de cá:
Há pouco tomávamos café da manhã no palácio da Aninha e do Rafa, onde estamos muito bem hospedados esses dias, quando ouvimos uma música bonita. Olhamos pela janela e vinham uma moça no acordeão e um senhor no violão, no meio da rua. Fomos pra varanda e ficamos apreciando, sem saber qual era a intenção da dupla, que não parecia tão somente querer alegrar a manhã de sexta de pobres mortais como nós. Entendemos que, pelas caras, eles queriam dinheiro e ficamos imaginando que absurdo seria jogar dinheiro e eles terem que interromper a música pra ir catar moedas no chão. Descer também não era o caso. Como funcionava isso, então? Logo veio uma mulher, do prédio da frente, gritar naquele alemão simpático que era pra eles pararem pois aquilo dava dor de cabeça!! E o casal, então, apontou pra gente, justificando porque estavam tocando! Sentimo-nos os próprios homenageados da serenata matinal, ainda sem saber o que fazer, mas conscientes de que deveríamos evitar a todo custo qualquer mal estar com a nossa cara vizinha. Aprendemos com a Aninha que política da boa vizinhança é algo fundamental aqui! Então fomos entrando, como quem não quer nada, agradecendo aos músicos, que nos olharam furiosos!

E agora, José?

Projeto de mestrado finalizado e a alegria da missão cumprida imediatamente substituiu uma vazio enorme: e agora? Se tudo der certo, as atividades começam em final de setembro. Estou eu aqui no coração do mundo, do ladinho de um monte de destinos sensacionais, mas não é hora de viajar (marido está ocupado com mestrado, cunhada chega mês que vem, quando devemos rodar por aí, o dinheiro já está curtíssimo...). É engraçado como o sempre almejado tempo livre me desorganiza! E aqui tem o agravante de não poder aproveitá-lo tomando cerveja com os amigos (embora tenha a melhor cerveja do mundo!) Queria eu ter a sabedoria de aproveitar dias de folga para fazer aquelas coisas que a gente sempre tem vontade de fazer quando não tem tempo, mas que perde a vontade quando tem!
Bom, o jeito vai ser voltar à rotina escolar do curso de alemão intensivo... Em vez de sair de bicicleta por aí, amanhã estarei eu dizendo “Guten Tag” pra Frau Brauer!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

fragmentos do último e-mail (se você recebeu, não se dê o trabalho de ler!)

Lindos do meu coração, 

agora sou novamente uma pessoa ocupada, compenetradissima com o desafio de parir um projeto de mestrado (diga-se de passagem, com um tema completamente diferente do planejado), além do intensivo de alemão e das aulas de conversação em francês. Por isso ando sumida, mas confesso que esse negócio de escrever é o maior vício, então vamos a mais relatos banais sobre essas últimas semanas:


-fizemos duas viagens curtas (pra Freiburg, onde Marco foi tocar e rever amigos do curso de alemão) e pra Bonn (que é muito bom! Mas bom mesmo é Colônia, que é do lado e é encantadora. Me senti no carnaval do Rio: pessoas fantasiadas nas ruas, tudo alegre, colorido e cheio de música. Fiquei fascinada com uma bicicleta coletiva, onde umas 20 pessoas bebem de canudinho um barril enorme de chopp enquanto pedalam!)

-estive na França para as entrevistas e finalmente defini meu mestrado e confirmei que Strasbourg é linda! Apesar da loucura de viajar para outro país (ainda não sei se diariamente) e de ter que lidar com 4 línguas (quando cada vez mais tenho certeza de que o registro cerebral para língua estrangeira é um só!) para garantir o sofrimento de escrever uma dissertação em francês cujo título talvez nem tenha valor no Brasil, acho que vai ser bem bacana adentrar mais esse universo! Meu projeto é praticamente uma mistura de quase tudo o que me interessa: subjetividade, miséria, prevenção e clínica. Ou seja, a ideia é pensar as formas subjetivas da pobreza para buscar políticas sociais que façam sentido, que sejam eficazes e que incluam a participação ativa da população-alvo, para que esta seja tomada enquanto ator-social e não como mero objeto (e daí entra o viés da clínica). Ufa! Agora explica e desenvolve isso aí em francês! Ainda bem que tem mamãe pra traduzir! 

- presenciei um acidente horrível, em que o inofensivo do Strassenbahn que eu pego todo dia atropelou e matou uma mulher. E eu que achava tudo aqui lindo e tranqüilo, depois de estar bem no vagão da frente durante o acidente, ando meio assustada, me arrepio ao ouvir o alto-falante anunciando a estação onde aconteceu a tragédia e agora só atravesso as ruas praticamente bucólicas daqui olhando para os dois lados! 
  
- Bom, pra quebrar o clima chato da última notícia, compartilho algumas anotações:
. a relação deste povo com a nudez é outra. Na academia é um desfile de corpos, inclusive senhoras e gordas, indo e vindo peladonas dos chuveiros- coletivos, apesar da estrutura da academia ser top! - e da sauna- sim, tem sauna e terraço com espreguiçadeira, sentiu o clima? Agora, adivinha como se faz sauna aqui? Nuzinho, pelado, claro! A coisa é tão natural que hoje tomando banho, ainda sem me acostumar com a exposição do meu corpo semi-obeso às outras damas, quase tive um troço ao ver um homem, trabalhando na obra do terraço ao lado, com uma visão privilegiada do chuveiro feminino! E não é que o homem não estava nem um pouco interessado em olhar! Tudo bem que meu estado atual, com todas as maravilhas germânicas de queijo, leite e chocolate, não está nada admirável, mas me pareceu que ele nem checou (ainda bem!). Isso é uma coisa bem interessante, eles não têm esse nosso péssimo hábito de ficar reparando, julgando ou se metendo na vida alheia: nego dança MUITO estranho (imagina um casal dançando "junto", cada um uma música mental própria, ambas de ritmos inteiramente diferentes da que estava tocando!), anda nu, se veste bizarramente, usa micro shorts ou saias que mais parecem cintos (e eu que, ao arrumar mala, tirei os vestidos mais curtos, que aqui seriam saiões, por conta da dica de uma amiga de que aqui não se mostra muito as pernas), mas ninguém nem repara! 

- finalmente resolvemos nosso apartamento! Isso foi uma novela: se inicialmente o problema é que não tínhamos opção, pois éramos vetados em todos os processos seletivos das imobiliárias, depois a coisa se inverteu e ficamos em dúvida quanto a qual dos apês escolher! Acabamos fechando aquele que é longe, mas lindo e mobiliado. Mudaremos em 1 de julho; não vejo a hora de ter um lar para chamar de nosso! E o plus: teremos uma excelente estrutura para hóspedes!  Olha que este fator contou no nosso processo seletivo (quando pudemos tirar onda de que éramos nós quem escolheríamos o apartamento). Portanto, venham nos visitar!

Beijos saudosos

terça-feira, 24 de maio de 2011

aventuras de uma dona de casa

odisseia pra lavar roupa. Moramos na roça e não temos máquina de lavar aqui (ela está lá nos esperando no nosso super, lindo, maravilhoso futuro apartamento !) Acúmulo de roupa que não cabe no nosso carrinho de compras fofo (tipo aqueles carrinhos de compras, de lona, que as velhinhas usam - pelo menos aqui elas andam com eles pra cima e pra baixo. O nosso é preto de bolinha branca! O Marco acha meio esquisito, mas as outras opções eram rosa ou verde de bolinha!). Vou eu pro curso de alemão munida de carrinho, toda enrolada pra puxá-lo pra dentro e pra fora do Strassenbahn, escada acima e abaixo. O mais difícil foi explicar em alemão o que tinha ali dentro, justificando que, não, eu não estava de novo indo viajar. A lavanderia é um universo alienígena. Máquinas assustadoras e várias instruções incompreensíveis. Uma boa alma me ajuda, mas com a condição de que seja em alemão, afinal "se eu estou morando aqui, tenho que aprender". Tem toda a razão o senhor e até que meu alemão deu pra uma comunicação beeem precária, mas suficiente pra aprender que lã se lava a 40 graus e roupa de algodão branca a 60. Só que estava lá tudo misturado - jeans, tapete, lã, roupa íntima... Eu crente que os 60 ou 80 graus da máquina iriam neutralizar o absurdo de misturar roupa de cama, calcinha, pano de prato e o resto de chiclete que grudou na minha calça! Fiquei frustradíssima ao me dar conta que os 40 graus, praticamente nossa temperatura corporal, nunca dariam conta de me deixar com a sensação de que aquilo tudo estaria realmente limpo. Mas já tinha colocado os 7 euros na máquina e nunca que eu ia gastar mais (ainda tinha o preço da secagem!) Enfim, no final aprendi também que a mesma lã que atrapalhou tudo não podia ir na secadora e teve que adiantar minha volta pra casa, 2 horas depois, úmida e apertada num saco plástico! Resultado: não fiz compras e a dispensa está vazia. Sem comentários quanto às funções cozinhar, lavar louça, aspirar, passar pano, arrumar cama, organizar as coisas e fazer projeto de mestrado, pergunto: como as pessoas têm coragem de ter filhos?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

voltando às origens

Muito interessante isso dos caminhos que a vida vai desenhando. Cá estou eu, voltando às origens da minha família, totalmente imersa numa cultura que formou meu pai, meus tios, meus avós, sem jamais ter me identificado, desejado ou me interessado por resgatar essa história familiar. Pelo contrário, meu pai se naturalizou brasileiro (o que me impediu de solicitar cidadania) e, embora volta e meia concluíssem que, por conta dessa descendência tão próxima, eu falava alemão ou vinha pra cá com frequência, nunca houve proximidade com a cultura alemã e meu pai chegava a dizer que ele não era alemão coisa nenhuma, e sim brasileiro (o que é a mais pura verdade!). O desinteresse era tanto que quando Marco ganhou a bolsa pra vir fazer o mestrado aqui, eu logo saí com a solução: “ótimo, eu vou estudar na França e moramos lá, que é bem mais legal!”. Não sei bem de onde veio essa imagem de que a França é mais legal e que morar na Alemanha, que eu nem conhecia, seria desinteressante. Mas o engraçado é como a coisa mudou de figura sem que eu sequer me desse conta: não só eu estou super satisfeita de morar aqui, como estou estudando alemão intensivamente, tendo deixado o francês, teoricamente mais importante, em segundo plano. Estou tão “acomodada” aqui que a idéia de ter que viajar pra outro país (mesmo que a distância seja de 1h30!) pra ter uma vida profissional e acadêmica, me é desanimadora! Foi curiosíssimo ir pra França na última semana: rolou um novo choque cultural, achei tudo diferente e estranho. É como se agora eu pertencesse à Alemanha, onde sou menos estrangeira que na França! Dei-me conta, outro dia, de um bom indício da “redução do meu nível de estrangeiridade” : quando chegamos aqui tínhamos excelentes desculpas para não comprar o ticket do bonde (que se deve comprar e validar na máquina, mesmo sendo raríssimas as fiscalizações e não tão cara a multa caso não se tenha feito o procedimento – 40 euros): entendíamos que por sermos estrangeiros não tínhamos obrigação de saber como funcionava o negócio; depois acreditávamos que podíamos sempre andar com o bilhete mais barato e justificar que não sabíamos da diferença, depois fingíamos que já íamos saltar ou que estávamos comprando o tíquete durante toda a viagem! Hoje não tem questão: temos sempre a passagem regular, é como funciona, simples assim! E que esquisito olhar pra tão pouco atrás e me ver querendo dar um jeitinho brasileiro, achando correto e possível não me enquadrar no procedimento! E que aflição o “caos” da França, onde nem sempre se espera o sinal fechar para se atravessar, ou nem sempre a ciclovia é local só para bicicletas!!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

continuação

- o trânsito é muito louco: todas as ruas super estreitas e de mão dupla. De manhã cedo, na roça fofa que é aqui a nossa cidadezinha os ônibus disputam lugar com caminhões numa ruelinha que, não fosse pelo trânsito deste horário, pareceria parada no tempo! Acontece de um ou outro subirem violentamente nas calçadas para passar, essas às vezes com lindos jardins de tulipas! Já as bicicletas (e eventualmente as charretes que parecem só existir aqui na nossa bucólica vizinhança) têm prioridade absoluta, então ônibus ou caminhão nenhum as ultrapassam, ficando elas no MEIO da rua, sem nenhuma preocupação com sua velocidade ser infinitamente inferior a de um ônibus, ou de deslocar pra perto do meio fio pra dar passagem! Afinal, calçada é lugar de pedestre e não de bicicleta. A não ser quando é uma calçada compartilhada e aí, ai de você, pedestre, se não andar direitinho no seu canto de dentro! Corre o risco de ser atropelado pela bicicleta ou tomar um xingamento em alemão! Aliás, ô povo brabo! Levo um susto toda vez que falam comigo! Parece que eles estão brigando mesmo quando só estão te avisando que você é bem-vindo e pode entrar!
-ainda sobre o alemão no volante: os carros são estacionados tão bizarramente que é comum vê-los completamente atravessados nas calçadas (perpendiculares em vez de paralelos ao espaço do pedestre!), ou tão tortos que a bunda fica ocupando um pedaço da rua, ou mesmo fora de vaga, no meio da rua, aquela que tem espaço pra apenas um veículo e é mão dupla, com caminhões e ônibus! E, apesar disso, é um povo super civilizado!
- duas coisas que fazem MUITA falta aqui e que não consigo entender porque eles não usam: máquinas ou capacidade para usar cartões de crédito ou mesmo de débito, e tanque! Não sei como esse povo que faz faxina e lava roupa não sente falta de tanque! Ah, sim, também não existe ralo no banheiro. Bom, se o apartamento vier com uma cozinha montada, já se pode sentir no lucro (isso foi determinante na escolha do nosso futuro lar!)  A maioria dos apartamentos pra alugar aqui não tem nem a bancada da pia! Isso também faz parte da incrível cultura da autonomia: compra-se, carrega-se e monta-se seus próprios móveis, inclusive sua cozinha!Você vai na loja e olha praquele monte de pedaço de compensado e vai consultando o manual que você baixou da internet pra pegar as peças, os parafusos e roscas do tamanho certo, além dos eletrodomésticos, e depois carregar pra casa o peso todo, subir os até 6 lances de escada que um prédio, invariavelmente sem elevador, costuma ter, e passar horas com as instruções na mão montando a sua própria Kuche). E assim a pessoa aqui passa a dar o devido valor a uma cadeira!!
  

terça-feira, 17 de maio de 2011

em 9 de maio

(aos poucos vou postando aqui fragmentos dos e-mails que escrevi antes do nascimento deste blog)

me sinto cada vez menos estrangeira cá nesta terra dos meus antepassados. Por um lado, parece que estou bem adaptada e aqui já tem uma certa cara de "casa"; por outro, deixar de me surpreender com as coisas e ter uma rotina torna tudo menos interessante... Então, num esforço de recolher aquelas impressões ainda sob a ótica do estranhamento inicial, que é tão delicioso e impactante ao mesmo tempo, desta vez mando algumas anotações do meu diário de bordo:
- é admirável a autonomia dessa gente aqui, em todos os sentidos: desde os cuidados domésticos, em que eles fazem sem ajuda absolutamente tudo (o que não é só lavar, faxinar, cozinhar, mas também cuidar do lixo, do prédio, da calçada!), até o cuidado consigo (na academia, por exemplo, não tem um professor pra te passar a série de exercícios e te observar, é você quem sabe o que e como deve fazer. O mesmo vale pra máquina de bronzeamento artificial, proibida no Brasil e disponível aqui inclusive na academia: é só colocar uma moeda de 2 euros e usar, por sua conta e risco!), passando por todos os serviços (no comércio, em geral, é o cliente quem vai lá e procura a mercadoria, tem que levar sua sacola pra carregar as compras do mercado - e obviamente não existe entrega em casa! - no posto de gasolina é naturalmente o motorista quem abastece, na locadora de carros você recebe uma senha pra abrir um "cofre" no meio da rua e retirar a chave do seu carro, estacionado ali do lado, etc.) Aliás, os serviços são uma boa porcaria, mas não por isso. A coisa da autonomia eu até prezo, mas tem uma lógica do funcionário aqui se limitar, de forma objetivamente germânica, à sua função. Isso vale inclusive para a minha professora de alemão, que se recusa a dar qualquer vocabulário ou explicação que não faça parte daquela etapa do curso pela qual ela é responsável!
- ainda quanto à cultura da autonomia: velhinhos e crianças novinhas andam sozinhos, com uma independência impressionante! Inclusive de bicicleta, que aliás todo mundo usa aqui. As crianças fazem um treinamento específico e ganham até carteira a partir de uma determinada idade!! E não é raro encontrar ciclistas de cabeça branca, branca!
- As bicicletas (e também os cachorros!) são comuns inclusive no Strassenbahn (o transporte nosso de cada dia). Tem gente muito mal educada: acontece de idosos de idade bem avançada precisarem viajar em pé porque ninguém cede o lugar ou dá licença. É comum também as portas do bonde estarem abarrotadas, ter lugar à beça no meio e as pessoas não abrirem espaço para as outras passarem! Não muito diferente dos metrôs brasileiros...
- eles são MUITO porcos: papo de usar a mesma mão pra pegar o dinheiro e a casquinha do sorvete, ou fazer o sanduíche ou mesmo colocar no saquinho a castanha que você comprou; de virar a garrafa de cerveja dentro do copo, com a bebida encostando no corpo da garrafa até encher o copo; do Strassenbahn estar tão fedorento que você desce antes e vai a pé; de não se encontrar guardanapos e nem recebê-los quando se compra uma comida.

domingo, 15 de maio de 2011

voltando pra "casa"

Ela: é estranho não sentir nossa casa como casa mesmo, ter como referência de casa uma tão distante. Nossa, fico angustiada de pensar nessas coisas, me sinto desamparada, meio sem contorno, sem referências...
Ele: ih, nem pediram nosso ticket no trem!


ô bicho dessubjetivado esse tal de homem!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

sexta feira treze

Esta é de hoje mesmo (a postagem anterior foi escrita ontem, mas eu apanhei um bocado até achar este tal blogspot aqui, finalmente facinho de usar):


resolvi dar sentido à dor de cabeça monstra que grudou em mim desde ontem (coisa rara!), junto com um mal-humor insuportável, quando descobri que hoje é sexta-feira 13. Só mais tarde fui me dar conta de que hoje fazemos 6 meses de casados! 6 meses de papel passado, mas exatos 1 mês e meio de vida de casal mesmo. E que descoberta difícil e deliciosa ao mesmo tempo essa de dividir a vida! Vamos comemorar agora com um vinho e um filme. E uma viagem pra Freiburg amanhã, que eu digo que foi planejada justamente pra celebrar os 6 meses de casório e os 4 anos de namoro, depois quase passados batidos, mas que na verdade é porque o meu marido (já estou quase me acostumando com essa palavra linda!) foi chamado pra tocar lá,chiquérrimo!. Bom, que nosso casamento seja um eterno namoro! (Isso foi piegas, mas não poderia ser mais verdadeiro!).


















OBS: o mal-humor literalmente me pegou - em meio à confusão dos meus pobres neurônios com tantas línguas, fiquei sem saber se estou de MAU-HUMOR ou de MAL-HUMOR. Logo saquei que obviamente tratava-se de MAU-humor, pois era o contrário do BOM-humor e não do BEM-humor. Aí o que me parou foi o hifen - depois da reforma ortográfica eu nunca sei se as palavras, antes tão familiares, têm hífen! Fui eu lá, mais uma vez, consultar o Flip, o corretor ortográfico de língua portuguesa e, segundo ele, não só o raio do humor tem hífen mas é com L mesmo. Eu hein!!

uma tentativa de começo

-Como que se começa um blog?

Bom, já que o caminho se faz ao caminhar, lá vai uma tentativa, meio constrangida com esse negócio de exposição:

Parece que a calorosa despedida do Brasil, ao mesmo tempo tão recente e já tão distante, somada à idéia e incentivo de amigos e às boas respostas aos meus e-mails (estou começando a acreditar que eles são interessantes mesmo!) massagearam meu ego e eu resolvi fazer algo que nunca imaginei: criar um blog! Sou tão ignorante no assunto, que não sei nem qual é o verbo pra isso: começar, criar, abrir, fazer?! Sei que a ideia de publicizar minhas observações, anotações e tantas coisitas pessoais é muito estranha, mas é também uma forma de me manter conectada (literalmente!) com o mundo, de me sentir ainda muito próxima das pessoas queridas, destinatárias do meu diário de bordo, e de dar contorno a essa experiência louca, intensa e fantástica de começar a olhar o mundo com outros olhos. E, preciso confessar, escrevê-lo tem sido surpreendentemente prazeiroso. Sem dúvida, trata-se de um sintoma, pois eu devia era estar escrevendo meu projeto de mestrado! Como posso ter tanta falta de talento pra uma escrita e tanta ideia pra outra?

Hoje comecei o curso de francês, na tentativa de me sentir menos insegura pras entrevistas que tenho em Strasbourg na semana que vem e na próxima. E aconteceu o contrário: fiquei desesperada ao perceber que a coisa é mais grave do que eu imaginava: perdi muito do pouco francês que eu tinha!! O vocabulário me ocorre em inglês, em alemão e nada do raio do francês vir! Também, absolutamente imersa no alemão, esta língua “sutil” que gruda na cabeça, fazendo 4 horas diárias de aula, me comunicando em inglês na rua e em português em casa fica difícil ter cabeça pra alguma outra língua. Estou pirando, tem momentos em que não sei falar nenhuma delas! Mas olha que lindo: se tudo der certo e meus neurônios, já normalmente tão confusos, não estourarem, vou sair daqui poliglota!! Genteee, até a palavra é chique!
Bom, mas se o francês, tadinho, tá semi-morto, hoje fiquei orgulhosa dos meus incríveis avanços: consegui usar meu escasso alemão pra comprar um livro e pra me fazer entender pela atendente do curso!

E eu que sou meio cética com essas coisas, ri ao ler meu horóscopo de hoje:
SOL NA CASA 9, LUA NA CASA 1
DE: 12/05 (Hoje) , 11h33
ATÉ: 15/05 , 0h09 
Sol e Lua nas casas 9 e 1 estão em harmonia, nesta próxima fase que vai de 12/05 (Hoje) a 15/05. Você estará vivendo um momento excepcionalmente favorável para fazer contato com pessoas que estão distantes, ou mesmo viajar.
Esta é também uma fase favorável para a expansão de seus próprios quereres e idéias (...) falando sobre suas experiências. Você, de repente, descobre que as coisas que havia imaginado podem ser muito mais amplas! (...)
 Reflexão para o período:o que há de novo para descobrir?