terça-feira, 27 de novembro de 2012

mais um daqueles mails

lindos do meu Brasil,
descobri uma enorme desvantagem em receber visitas queridas e em viajar por aí: quando acaba a farra eu fico péssima!! Estou assim, com o coração partido, vazia e desterritorializada com a despedida da Manu e de amigas queridas que foram o melhor presente de aniversário! E agora que o inverno se aproxima, que os dias são curtíssimos, que eu tenho que encarar um início de doutorado pro qual não estou nem um pouco empolgada, tudo parece meio melancólico.
Mas, dramas à parte, não posso reclamar da vida. Tenho aproveitado muitíssimo esse tempo cá nessas bandas. Já viajei mais do que minha megalomania poderia supor e tem mais por vir (engraçado como passar o ano novo em Paris se tornou algo meio banal. Ai, desculpa, gente, eu tô muito nojenta!!). Vêm mais visitas aí e já é natal na leadermagazine. Depois começo o tão esperado estágio em La Borde e, pronto, já será reta final pra volta!! O plano é correr pro abraço do cristo redentor em setembro do ano que vem, mas certo mesmo, não temos nada. Só que o Marco tá bombando, com mil concertos marcados, fazendo um super sucesso e, naturalmente, amando essa vida alemã. E, ao mesmo tempo que eu não quero ser a estraga-prazeres e que é uma alegria enorme acompanhá-lo nessa conquista tão legal, minha licença vence em outubro do ano que vem, renovar é difícil e eu não aguento mais ser uma pessoa inútil!! Até meu empreguinho de faxineira rodou (minha "pratoa" disse que era férias demais pra ela, haha!!)
Bem verdade que tem um monte de coisas chatas pra resolver e vida acadêmica pra tocar, mas isso de não ter muito horário certo pra nada dá uma preguiça... No momento tenho me ocupado com artigos pra publicar, já que o sentimento de inutilidade gera uma necessidade de existir ao menos virtualmente, mesmo que seja escrevendo alguma coisa que ninguém vai ler. Aliás,justamente por isso, estou numa ambivalência enorme: num ato de abusada ousadia, mandei minha dissertação pra uma editora e... eles aceitaram publicar!! Mas... desde que eu pague uma parte dos exemplares, rá!! Aí fico eu sem saber se é jogada comercial, se a renda deles se reduz a pobres autores pagando pelo privilégio medíocre de escrever um livrinho na vida só pra completar os mandamentos "escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho" (aimeusdeusu, eu só plantei uma árvore e já estou com 32 anos!!!). Ou se de fato o troço é publicável, mas, tadinha de mim, não é comercial, como eles disseram. Afinal, quem quer ler sobre pobreza?! Pra além da dúvida de se vale ou não investir esses cerca de 2 mil reais pra ficar faltando só ter um filho de verdade depois, fico sem saber se tenho coragem de dividir essa cria intelectual com o mundo (rss, até parece que o "mundo" vai ler!! Mas, vocês, vítimas de um possível lançamento de um improvável livro, podem resolver um dia ler e, mesmo que seja um parágrafo, morro de vergonha de não estar bom!!) Bom, quem não tem mais com o que se preocupar, arruma sarna pra se coçar...
Ah, mas assunto muito mais legal, é viagem, alimento pra alma. Dessa vez rolou até de desbravar um outro continente! Estivemos no Marrocos e, realmente, é um mundo à parte. Só pra finalizar esse e-mail pedante, uma historinha pra dar uma pequena ilustrada do que é a cultura da negociação de tudo: chegamos no aeroporto (quatro mulheres!) meio perdidas e sem saber direito qual era a da parada. Tínhamos reservado um transfer pra ir até o albergue, justamente porque não sabíamos o que seria de nós no contexto chegar na África, num país extremamente machista e radical (enfim, não é bem assim como pinta o estereótipo). E tínhamos também combinado de encontrar um amigo de um guia super indicado para nos levar ao deserto, que iria nos entregar as passagens de ônibus para a tal viagem. Bom, o cara se aproxima propondo sairmos do aeroporto para "tomar um negócio" com ele lá fora! E insiste que não precisaríamos de transfer que ele nos levaria ao albergue! Eu, que logo depois me acostumei a sentar, tomar litros de chá e conversar durante horas até chegar num comum acordo de preço para comprar um brinco, uma sandália ou 10 gr de açafrão (!!), ainda não tinha sacado que o " ir lá fora tomar algo" era só parte da negociação e logo deixei o homem ofendido ao errar duplamente: disse que não ia lá fora e disse que não pegaríamos carona pois já tínhamos pago um transfer (aiaiaiai, quem disse que pode mencionar dinheiro antes da hora?!) Levei um baita de um fora e as meninas que foram encarar a negociação simplesmente receberam a proposta de, pela bagatela do mesmo preço da passagem de ônibus, pegar uma carona com o amigo do tio do cunhado do vizinho dele pro deserto, a 700 km de distância!!! Obviamente recusamos a proposta irrecusável e quase saiu briga entre ele e o motorista do transfer, esse já irritadíssimo com a gente, dizendo que não ia esperar nem mais um segundo e indo numa batida difícil de acompanhar pro estacionamento... Bom, nesse mesmo dia nos perdemos 984 vezes na medina de Marraqueche, sem poder aceitar informação dos 25 homens que nos abordavam desesperadamente para nos levar, desviando o tempo todo de motos, cavalos, carros, pedestres, carroças, carnes podres cheias de mosca (à venda!!) etc. Mas logo entendemos como as coisas funcionavam e aproveitamos muito, com direito a um espetáculo de estrelas cadentes na noite no deserto e um meteoro que cruzou a lua numa cena tão emocionante que achei que, de fato, era o fim do mundo. 
É, somos muito pequenos nesse mundão... há muito o que conhecer e aprender e, quanto mais se o faz, menor e mais sem lugar nos sentimos. Mas é uma delícia, assim como o é escrever pra vocês, o que me faz sentir situada e cheia de calor brasileiro!
Um beijo enorme,
Maria